quarta-feira, 31 de outubro de 2012

BENEFÍCIOS PARA O MEIO AMBIENTE


Bagaço transformado em papelão


A produção de papelão reciclado requer a aquisição de cana junto aos engenhos localizados na RMF
Uma boa iniciativa de reaproveitamento do bagaço da cana-de açúcar vem acontecendo há exatos 20 anos, no município de Pindoretama, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). O que antes era resíduo é utilizado como matéria prima para fabricar caixas de papelão, livrando o meio ambiente de mais um impacto e os lixões de um material que não tinha serventia alguma.

A usina recebe a cana- de- açúcar de vários municípios da Região Metropolitana de Fortaleza, retira o suco e aproveita o bagaço para fazer o papelão que é utilizado na fabricação de caixas fotos: Waleska Santiago

A Pecém Agroindustrial fabrica papelão totalmente reciclado. O material utilizado na composição do novo produto vem de aparas de papel recolhido por catadores nas ruas e é misturado com o bagaço da cana-de-açúcar, que passa por um demorado processo até virar papelão.

No início, a Pecém repassava 80% do que era fabricado para uma outra empresa pertencente ao mesmo grupo empresarial. Com a venda recentemente desta fábrica, passou a negociar tudo o que produz para o mercado, inclusive com a ex-empresa.

A cana-de-açúcar é adquirida dos engenhos localizados em cidades vizinhas como Aquiraz, Eusébio, Pacajus, Redenção, Acarape, Beberibe, Horizonte, Cascavel e também de Pindoretama, onde possui um canavial próprio. A cadeia completa tem cerca de 150 fornecedores.

Descarregamento

Ao chegar à fábrica, a cana é imediatamente pesada e descarregada num local chamado de casa de cana. É enviada para uma esteira onde é lavada numa mesa de alimentação.

Em seguida, é introduzida numa segunda esteira para que seja direcionada até o local onde o caldo é retirado para ser utilizado com outras finalidades. Antes disso, porém, é cortada em pequenos pedaços.

A retirada do caldo só ocorre mesmo quando a cana é prensada nas moendas. Cerca de 30% do bagaço inicialmente alimenta as duas caldeiras da fábrica, ao se transformar no vapor que impulsiona a máquina que produz o papelão e também gerando 50% de toda a energia que a Pecém Agroindustrial utiliza.

Os 70% restantes do bagaço da cana são guardados numa área de estocagem. É que o período de safra vai de agosto a dezembro. O que fica armazenado supre as necessidades da empresa no restante do ano. Assim, o processo de fabricar o papelão reciclado não sofre qualquer tipo de solução de continuidade.

Mistura

Em média, são utilizados, em cada safra, cerca de 27 mil toneladas de bagaço. A empresa tem capacidade de processar cinco toneladas por dia. Conforme o dirigente Paulo Telles, o bagaço representa apenas 10% do que é adicionado para a feitura do papelão. "Essa mistura é bem interessante, pois a fibra da cana e do papel se juntam e dão um adensamento bem melhor do que ocorre com o material que é produzido de forma convencional", esclarece.

Paulo Telles destaca que as vantagens do bagaço de cana vão mais além, visto que, afora o fato de ser adicionado ao papelão, é utilizado como energia. "Os benefícios ao meio ambiente são de toda ordem pois evitamos a utilização de lenha ou de qualquer outro tipo de combustível".

A empresa adquire cerca de 1.800 toneladas de aparas de papel por mês dos catadores. O material vem de várias cidades do Ceará, como Russas, Itapajé, Juazeiro do Norte e Sobral; de Teresina, no Piauí e de Natal e Mossoró, no Rio Grande do Norte. Há previsão de que São Luís, no Maranhão seja a próxima cidade a ser incluída nesse roteiro.

Circuito fechado

Toda a água usada na produção do papelão reciclado é reaproveitada. Nada menos do que 80% dela ficam numa espécie de circuito fechado, ou seja, não há desperdício. Os 20% restantes a empresa aproveita para irrigar o seu próprio canavial.

Outro processo interessante da reciclagem é a retirada das impurezas que vêm junto com o papelão recolhido nas ruas, tipo plástico, ferro e alumínio. Tudo que é extraído é negociado com as respectivas recicladoras.

Após a purificação, o papelão que foi recolhido das ruas é diluído na água formando uma massa. Depois de limpa e filtrada, essa massa é refinada até chegar à condição de fibra de celulose.

Em seguida, a fibra, novamente agrupada, passa por uma espécie de mesa, onde o material se encontra com 98% de água. Numa prensa, o líquido excedente é extraído e, posteriormente, seco à uma temperatura de aproximadamente 120 graus.

Na etapa final, o novo material passa pelas impressoras. Na primeira, ocorre o corte na chapa de papelão e a colagem da caixa. São formados lotes de 30 unidades que recebem uma fita para agregá-los e posteriormente juntá-los em fardos. Uma segunda máquina impressora funciona de forma diferente. Após a impressão, ela interrompe o processo de colagem a fim de que as caixas sejam grampeadas. Essas precisam de maior resistências, pois serão usadas no armazenamento de produtos mais pesados como móveis e bicicletas.

Como há uma mistura entre papelão que foi reciclado apenas uma vez, com material considerado virgem, o processo pode acontecer infinitamente. Em tese, se apenas o mesmo material fosse sempre reciclado, as fibras perderiam seu potencial natural e isso não seria possível.

Reserva ecológica

A empresa mantém em Pindoretama uma Reserva Ecológica Particular (REP). Ocupa uma área de 40 hectares e conta com espécies raras do ecossistema de tabuleiro pré-litorâneo. O local é dotado de quatro trilhas e quatro praças sinalizadas com placas que foram feitas com material reciclado e toras de eucalipto (manejo de reflorestamento).

Paulo Telles garante que "a reserva é cuidadosamente fiscalizada e mantida em excelente estado de conservação, de modo a manter a integridade das espécies vegetal e animal".

A REP já recebeu a visita de mais de cinco mil pessoas, incluindo alunos de 30 escolas e de diversas universidades. O acesso ao local é feito com o acompanhamento de monitores e supervisores da empresa.

A mata abriga 11 espécies de mamíferos, sete de peixes, 101 aves e 24 répteis, além de espécies arbóreas únicas, como o gonçalo-alves (Astronium fraxinifolium), incluído pelo Instituto Brasileiro dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na lista oficial de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção.

REPÓRTER  - FERNANDO MAIA
FONTE

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