Neymar e Ganso 'compõem' juntos, e Santos bate Guarani na primeira final
Pagode e música clássica dão o tom da
vitória santista por 3 a 0. Atacante, com mais dois gols, chega a 104 e
iguala o artilheiro Serginho Chulapa
A CRÔNICA
por Leandro Canônico
Resultado suficiente para que os mais de 40 mil santistas presentes no
estádio do Morumbi cantassem com otimismo “Vamos ser tri, Santos”.
Campeão estadual em 2010, contra o Santo André, e no ano passado, diante
do Corinthians, o Santos de Neymar e Ganso está bem perto de levar o
caneco pela terceira vez seguida.
Para evitar a conquista do Peixe, o Guarani precisa vencer por quatro
gols de diferença no próximo domingo, às 16h, novamente no estádio do
Morumbi. Ou então, na pior das hipóteses, ganhar por três gols e levar a
decisão para os pênaltis. De qualquer maneira, a missão é muito
complicada.
No jogo deste domingo, o espírito da ousadia e da alegria de Neymar
contagiaram também o mais pacato Ganso. Mas vale lembrar também da
coragem do Bugre, representada na entrega do zagueiro Domingos, revelado
pelo Santos e que teve uma tarefa muito ingrata nesta primeira decisão.
- Eu agradeço ao Santos por tudo que conquistei na vida. Mas hoje eu
tenho que marcar o melhor jogador do mundo, o Neymar – brincou Domingos
antes do jogo.
Tarefa praticamente impossível. Há algum tempo já. Neste domingo, com
os dois gols marcados, Neymar chegou a 104 com a camisa do Santos e
igualou Serginho Chulapa. Na comemoração, aliás, ele imitou o eterno
artilheiro do Peixe ao sair correndo de maneira meio atrapalhada e se
jogando no chão na sequência.
- Espero que venha mais. Estou trabalhando muito todos os dias para melhorar os números e os títulos - resumiu o camisa 11.
Com o título paulista bem encaminhado, o Santos volta a campo pela Taça
Libertadores da América na próxima quinta-feira, às 19h30m, no estádio
do Pacaembu, para encarar o Bolívar, pelas oitavas de final. No primeiro
jogo, os bolivianos venceram por 2 a 1. Assim, vitória por 1 a 0
classifica o Peixe.
Assim que o ônibus da delegação santista estacionou no Morumbi, a expectativa no saguão do estádio era, claro, pela descida de Neymar. Só que a demora do craque do Peixe para sair do veículo aumentou esse clima, fazendo parecer que por aquela porta apareceria um pop star, pronto para dar espetáculo. Era mais ou menos isso.
Bastou Neymar aparecer para que um batalhão de microfones tentasse
alcançar a sua boca. Mas a pergunta que ele ouviu (e respondeu) foi uma
que já se tornou rotina: “o que você está escutando?”. Com o fone nos
ouvidos e o boné meio de lado, bem ao seu estilo, ele respondeu:
“Ousadia e Alegria, do Thiaguinho”.
Amigo do pagodeiro, Neymar conhece bem a música. A trata como um lema. E
o Guarani percebeu isso logo no primeiro minuto. Como se ainda
estivesse ouvindo o trecho “se der espaço, eu pedalo e vou para cima”, o
camisa 11 fez fila na zaga do Bugre e só foi parado com falta. Na
cobrança, Elano acertou o travessão.
Tivesse aquela bola balançado as redes, o Guarani poderia estar
entregue logo de cara. Mas o travessão salvou o time de Campinas e
encorajou os comandados do técnico Vadão. Com forte marcação e rápido
contra-ataque, o Bugre, em termos gerais, fez um primeiro tempo melhor
do que o Santos.
Chegou pelo meio, pelas laterais, com toque de bola... enfim,
aproveitou seus momentos com certa ousadia. O problema é que faltou
pontaria, como aos 16 minutos, quando Medina recebeu cruzamento livre na
grande área e bateu para fora. É difícil criar chances contra esse
Santos. Portanto, não dá para desperdiçar.
Aos poucos, o destino foi traçando um melhor caminho para o Santos,
muito embora Adriano tivesse levado cartão amarelo e ficado fora da
grande final. Aos 21 minutos, Neto, machucado, deu lugar a André Leone,
no Guarani. A forte marcação foi ficando mais frouxa e os contra-ataques
sumindo.
Voltou a campo, então, o lado musical do Santos. Mas o pagode deu lugar
à orquestra. Neymar chamou o jogo, arrancou pela esquerda e rolou para
área. Arouca dividiu com um zagueiro e a bola sobrou para Ganso bater
colocado: 1 a 0. Na comemoração, o maestro regeu a torcida.
Do lado do Guarani, o regente era mais “punk”. Domingos, no melhor
estilo zagueirão, deu um abraço apertado em Neymar antes de começar o
jogo. Sério em todos os lances, o defensor cometeu pênalti em Alan
Kardec, mas o juiz não deu nada. O bugrino, então, reclamou com o
atacante: “levanta, levanta!”.
Obviamente, a diferença técnica do Santos para o Guarani é grande. Mas o time de Campinas não chegou à decisão do Paulistão à toa. Caminhou muito na base da coragem e do entrosamento. Suficientes para deixar o Peixe atento e preocupado com uma reação por parte do time do interior.
E para deixar claro isso, Bruno Recife avançou pela esquerda logo com
um minuto e bateu forte de perna esquerda. A bola acertou a trave
esquerda de Aranha. Só que o exército de talentos do Peixe parece ser à
prova de sustos. O time tem o espírito de Neymar, que costuma dizer que
quanto mais apanha mais quer jogar.
Assim, com Ganso inspirado por um golaço no primeiro tempo, o Santos
partiu para o ataque sob a batuta do seu maestro. Teve uma ótima chance,
aliás, em cobrança de falta de Elano, aos seis minutos. O meia,
acompanhado do camisa 10 na bola parada, bateu colocado e viu Emerson
executar linda defesa.
Muito seguro em campo, o Peixe evitou acelerar demais a partida. Talvez
por ter na quinta-feira um jogo decisivo com o Bolívar, pela
Libertadores da América. No banco de reservas, porém, os treinadores não
se pouparam. Eufórico, Muricy gritava com a equipe. Preocupado, Vadão
tentava recuperar o contra-ataque.
Só que quem teve a jogada foi o Santos. Letal! Aos 20 minutos, Juan
acertou um belo passe para Ganso. O camisa 10 tentou driblar o goleiro,
mas Emerson conseguiu bater com a mão esquerda na bola. Seria heróico
não tivesse ali tão perto o craque Neymar, que completou para o fundo do
gol: 2 a 0.
O craque santista voltou a brilhar aos 46 minutos, quando ele recebeu
na área, matou no peito, tirou dois marcadores e chutou para o gol. Na
comemoração do seu gol de número 104 com a camisa do Santos, ele imitou
Serginho Chulapa, comemorando com os braços soltos e depois caindo no
chão. Ele igualou o artilheiro do Peixe.
Um placar desse em uma primeira partida de decisão de Paulistão pode
dar a falsa impressão de que o Guarani foi presa fácil ao Santos. É
verdade que o Bugre não foi dos adversários mais complicados neste
domingo, mas foi corajoso. Só que coragem é muito pouco para tentar
parar o Peixe de Neymar, Ganso e cia.
Quando um dos dois resolvem jogar bem já é um pesadelo para os rivais.
Imagine então no dia em que ambos decidem se inspirar? Foi o caso deste
domingo. Aí resta ao santista comemorar a mistura do pagode com a música
clássica. E a torcedor bugrino, o consolo de dormir ao som desse ótimo
“barulho” do futebol brasileiro.
Fonte: globoesporte.com
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