A cena mostra nitidamente uma verdadeira onda de pancadaria e arremesso de garrafas, latas, cadeiras e mesas, foi testemunhada pelo vereador mossoroense Jório Nogueira (PSD), que juntamente com outros vereadores tocou no assunto durante sessão realizada terça-feira (24) na Câmara Municipal de Mossoró. A resposta do grupo veio no dia seguinte, com nota de repúdio assinada por Júnior Grafith, vocalista e vereador pelo PRB em Natal – no texto, lido em plenário na Câmara de Natal, o artista e político repudia o que chama de “atitude de censura e discriminação de alguns vereadores de Mossoró ao artista potiguar”.
Para Jório, a banda fez o papel dela ao cumprir o contrato para tocar durante o evento. “Não queremos penalizar a Banda Grafith, e sim avaliar o comportamento do público. Tivemos vários shows naquela noite (dia 21), Zé Ramalho se apresentou antes deles (do Grafith) e estava tudo tranquilo. A briga começou quando eles começaram a cantar”, verificou o vereador Jório Nogueira, que confessou gostar do som do Grafith. “A banda não pode se ausentar, continuar o show como se nada estivesse acontecendo. Eles têm um grande público, são grandes profissionais, e precisam pregar o amor e a paz. Em nenhum momento vi a banda avisar que iria parar o show caso a briga não parasse acabasse parasse”.
Nogueira reforçou que o poder público tem responsabilidade no episódio “ao não mobilizar segurança” compatível com a dimensão do evento: “A guarda municipal fez sua parte, mas nós sabemos como está complicada a questão da segurança aqui no RN”, critica.
O vereador mossoroense afirmou que, “até o presente momento”, não há um projeto de lei proibindo futuras contratações da Banda Grafith pela Prefeitura de Mossoró. “O que há é uma recomendação para, quando a banda vier tocar de novo por aqui, que se pense em reforçar a segurança do público”.
De acordo com Jório, o tema foi levantado pelo vereador Genivan Vale (PROS) e também defendido pela vereadora Izabel Montenegro (PMDB). “Não estou sabendo direito desse assunto, nem falei em Banda Grafith ou Mossoró Cidade Junina para colocarem minha foto em uma matéria sobre esse debate”, defendeu-se a vereadora Izabel Montenegro, citada na nota de repúdio de Júnior Grafith como autora da proposição. “Melhor ligar para (os vereadores) Genivan (Vale) e Lairinho (Rosado)”, disse a parlamentar por telefone ao VIVER, que tentou contato com ambos sem êxito.
O Bode
Conhecida por apostar no gênero “Arrocha”, letras de duplo sentido e coreografias sensuais, a Banda Grafith completa 26 anos de estrada agora em 2014. A má fama do grupo em instigar brigas na plateia começou em meados dos anos 1990, quando estouraram nas paradas com a música “O Bode”, do baiano Carlinhos Brown – ninguém sabe ao certo o que leva os fãs a, de repente, se digladiarem durante essa música; mas é fato que a pancadaria virou uma espécie de ‘tradição’, a ponto da canção deixar de ser executada para evitar tumulto.
A nota de repúdio assinada por Júnior Grafith esclarece que “segundo dados oficiais, em Mossoró, até a data do show da Banda Grafith, já teriam ocorridos quase 90 homicídios (de janeiro a junho). A pergunta que fica: seria a banda a responsável por esses homicídios mesmo sem ter se apresentado na cidade no período? Logo percebemos que a questão é mais profunda. Isso é questão de segurança pública”. O vocalista e político lembra que “a Banda Grafith arrasta milhares pessoas todos os anos no Carnaval de Macau e o índice de criminalidade não aumentou com nossa presença”. Leia a íntegra da nota de repúdio na TN online.
Bate papo - Júnior Grafith
Cantor e vereador em Natal
Qual sua avaliação sobre esse debate levantado pelos vereadores em Mossoró?
Percebo é que muitas vezes alguns parlamentares falam além do que deve. Antes de afirmarem que a Banda Grafith incita a violência, é bom que se tenham dados concretos. Nossa banda tem história, representamos bem nosso Estado, ganhamos o Prêmio Hangar em 2013 de banda popular, e não vejo como podemos ser responsabilizados pelo que aconteceu. Pode ser inveja do nosso sucesso ou politicagem.
Como assim “politicagem”?
Para tentar justificar os índices de violência, por exemplo. Acredito que pode haver um jogo político nos bastidores, pois a contratação das bandas foi feita na gestão passada. Nessas horas pensamos em todas as possibilidades.
O senhor falou que durante o Carnaval em Macau a presença do Grafith não influencia nos índices de violência...
É de conhecimento geral que não incentivamos essa violência generalizada. Em Macau, onde nos apresentamos há 15 anos para 200 mil pessoas, não há aumento nas ocorrências. Estamos há três anos na programação do Mossoró Cidade Junina, e acredito que a violência está no dia-a-dia e não por causa da banda. Falta gestão e competência das autoridades no tocante a segurança pública.
Mas vocês deixaram de tocar a música “O Bode” nos shows por alguma recomendação?
Não. Essa música é de 1995, 96, já está fora do nosso repertório. Hoje só apresentamos ela nas festas de formatura, nos shows tocamos as músicas do momento. Atualmente estamos investindo em composições menos apelativas, e se ouvirem direitinho vão perceber que aquelas músicas apelativas de antes estão saindo do nosso repertório. O Grafith está dando exemplo nesse sentido.
E o que aconteceu sábado (21) em Mossoró? Vocês têm essa preocupação com a segurança do público?
Havia quatro atrações aquela noite, e chegaram para dizer que o público (100 mil pessoas) estava nos aguardando. No decorrer do show em Mossoró cobrei mais segurança próximo ao palco, acredito que não estavam preparados para receber tanta gente. Pedi segurança e não fui atendido, quando vieram, vieram poucos para o tamanho da multidão. Eu não vi briga e sim a polícia querendo impor a ordem, com pouco efetivo, tentando conter as latinhas e copos jogados para cima. O fato é que fugiu do controle na última música. No dia seguinte liguei para o Coronel Araújo (Comandante da PM) e ele me disse que houve um homicídio na madrugada daquela noite bem depois do nosso show.