Ao avaliar o PT, Geraldo salienta o desgaste da legenda e de seus líderes
O ex-governador e ex-senador da República Geraldo Melo (PMDB) voltou à cena política, nesta semana, devido um gesto de consciência que chamou a atenção da opinião pública: a devolução, simbólica, de uma medalha que recebeu quando ainda era governador do Rio Grande do Norte, em 1989. A revolta manifesta do ex-senador se deu ao saber que o líder dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, João Pedro Stédile, fora agraciado pela Medalha da Inconfidência Mineira, concedida pelo governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT). Em entrevista ao Jornal de Hoje, ele revela a surpresa da repercussão que ganhou o gesto, repercutido em jornais e nas redes sociais. “Não esperava porque foi um gesto de consciência, não fiz para ter repercussão, nem causar nenhum tipo de frisson. Fiz porque uma questão de consciência minha. Não fiz para agredir nem para agradar”, explica.
Ao avaliar o PT, Geraldo salienta o desgaste da legenda e de seus líderes. “A opinião pública cansou desse converseiro do PT. Podem olhar. Eles se reúnem, fazem encontros, conferências, congressos e passeatas, e falam eles para eles mesmos. Porque não tem ninguém fora eles que queiram ouvir aquele converseiro. O povo quer resultados e não papo furado”, diz. Confira a entrevista de Geraldo Melo ao Jornal de Hoje:
JH – Achava que a devolução da medalha teria tamanha repercussão?
Geraldo Melo – Não esperava porque foi um gesto de consciência, não fiz para ter repercussão, nem causar nenhum tipo de frisson. Fiz porque uma questão de consciência minha. Não fiz para agredir nem para agradar. Agora, acho que quando a gente faz o que deve há pessoas que, observando isso, têm reconhecimento e talvez por isso tenha tido uma repercussão tão grande. Hoje eu passei algum tempo mexendo nas minhas honrarias, as que eu recebi na vida, para achar, fisicamente, a medalha, e decidi fazer o seguinte. Porque não é a devolução, mas é a atitude. Agora, não sei onde entregar e a quem. Estou colocando numa caixa direitinho e vou mandar para meu amigo Aécio Neves. E dizer, está em suas mãos, você é depositário da medalha.
JH – Quando o senhor recebeu essa condecoração?
GM – Eu era governador. E uma coisa interessante. Você sabe que fui candidato a governador naquele tempo e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura fez, na campanha, um debate com cada um dos candidatos separadamente e no fim me escolheram como candidato oficial dos trabalhadores e me deram uma nota oficial da federação comunicando o fato à opinião publica. A partir daí, participaram dos meus comícios e definimos alguns compromissos recíprocos, do tipo de não haver invasão de terra, ou, em havendo, eu autorizava utilizar recursos, enfim. No meu governo fiz uma série de assentamentos, diferentes, porque eram voltados para a produção. Hoje tem essa história de reforma agraria e não conheço uma batata produzida.
JH – A história prega peças…
GM – E há outro detalhe: faltando dois dias para sair do governo, recebi uma comissão de presidentes de sindicatos, à frente do Sindicato dos Trabalhadores em Agricultura Francisco Urbano, que me disse: “A gente veio aqui fazer justiça porque o governo terminou e o senhor como governador cumpriu todos os compromissos como candidato”. Nesse meio tempo, revirando minhas coisas, vi uma foto dele, Urbano na Assembleia, com o Stédile de lado. Só que Stédile nem era comandante de um exército (de trabalhadores rurais) nem se achava acima da lei, o que hoje ele se considera, afinal é isso que transparece quando coloca camaradas nas ruas, gente de foice na mão, e acha que pode fazer o que quer. Enfim, mas quando ele foi recebido aqui no RN não era essa figura. De maneira que recebi críticas de uma turma mais petista, que recebe orientação de dentro do governo e fica de fora chafurdando. Disseram que eu não era homem para fazer frente a homens de luta. Bom, frente a marginais não sou, não. (risos)
JH – Os tempos são bem outros…
GM- O movimento comunista, inspirado doutrina de Karl Marx, é uma das coisas mais brilhantes. Marx dizia que o capitalismo ia acabar por conta de suas contradições internas. E propunha a ditadura do proletariado que terminaria em comunismo. Agora, faz mais de um século… Dizer hoje que o avanço da sociedade é caminhar junto com o que Marx propôs há mais de um século, é distância. Segundo, um autor polonês de que gosto muito afirma que o capitalismo tem tantos defeitos que até honestamente se pode criticar. Acontece que o capitalismo de Marx acabou há muito tempo e o pessoal não notou e fica sustentando as mesmas bandeiras. Outro ponto: o comunismo já foi testado e fracassou. Mas, provavelmente, fracassou, porque Stalin e companhia eram muito menos competentes do que os comunistas brasileiros. Se tivesse lá o Lula, a Dilma, o Stédile, o povo que governou a Rússia não teria fracassado, porque os nossos são mais competentes que os outros. Por isso que a opinião pública cansou desse converseiro do PT. Podem olhar. Eles se reúnem, fazem encontros, conferências, congressos e passeatas, e falam eles para eles mesmos. Porque não tem ninguém fora eles que queiram ouvir aquele converseiro. O povo quer resultados e não papo furado.
“Brasil não suportará 40 e tantos meses sem rumo”
Para o ex-senador Geraldo Melo, a presidente da República, Dilma Rousseff (PT), está fragilizada na condução do governo. Ao abordar a possibilidade de impeachment, diz que o foco da discussão não é jurídico, mas político. “Agora, está na cara que o Brasil não suportará 40 e tantos meses de um governo sem rumo. Até ela (Dilma) não suporta. A pessoa que tem um temperamento forte, que é presidente da República, que diz que a área politica não é com a senhora, que a área econômica também não, fica com o que? Fazer pronunciamento e receber panelaços?”, questiona o ex-governador.
Para Geraldo, o campo está aberto para que lideranças afinadas com a população encampem o impeachment. “Com todo respeito que tenho pela presidente Dilma, não é uma questão pessoal. Agora, acho que uma sociedade, numa democracia, que é regime da maioria, 63% quer o impeachment agora. Quem for líder e quiser se afinar com o sentimento popular, tudo bem. Movimento popular é esse, povão”.
Geraldo defende que o impeachment é decisão política, não jurídica. “O que se está falando no Brasil, acho que até um pouco de propósito, é nos aspectos jurídicos do impeachment. A lei, o fato, etc. Mas impeachment é uma decisão política e não jurídica. Os que tenham responsabilidade de tomar decisão política que tomem e depois contratem os advogados que acharem que precisam contratar para as discussões jurídicas. Não conheço um assunto jurídico que não tenha pelo menos um advogado defendendo e outro acusando. Esse é um problema de juristas, não de FHC, de Aécio, de Aluísio Nunes, de José Serra. O impeachment é um problema político. Tomada a posição, luta-se por ela. Pode-se conseguir ou não. Como o Brasil lutou pelas Diretas, e terminou aprovando. O papel dos comandantes políticos é decidir politicamente se vai ou não. Depois é a capacidade. Não vejo motivo para os líderes se perderem nessa discussão”, frisou.
“Robinson indiscutivelmente está com vontade de acertar”
Ao avaliar os primeiros três meses e meio da gestão do governador Robinson Faria, o ex-governador do Rio Grande do Norte Geraldo Melo afirma que o chefe do executivo tem boas intenções, mas ressalta que os desafios são enormes. “Eu acho que Robinson, indiscutivelmente, é uma pessoa que está imbuída de grande vontade de acertar. Agora, a realidade que cerca o governo dele e todos os governos estaduais nesse momento é uma realidade carregada de desafios muito grandes”, diz.
Geraldo analisa que o governo, entretanto, precisa ser pé no chão e encarar as adversidades com bastante senso de realidade. “Acho que o governo às vezes se coloca em face de alguns problemas muito grandes, numa postura muito otimista, de que resolve fazendo assim ou assado. E essas coisas têm um custo que não sei se está ao alcance da capacidade financeira do Estado resolver. E pelo que vejo da gestão financeira, sei que não está. Se ele vai conseguir os meios, não sei. Agora torço para que consiga”, diz Geraldo, lembrando ser norte-rio-grandense e dizendo-se torcedor do Estado. “Mas a barra é pesada, não adianta se iludir”, lembra.
Para o ex-governador, Robinson precisa cuidar da segurança pública. O vídeo em que bandidos foram flagrados assaltando em frente à casa do governador, segundo Geraldo, soa como recado ao próprio chefe do executivo. “Acho que o governador tem que se preocupar muito com a questão da segurança pública. Não nasci ontem. Quando vejo movimentos feitos, como esses, na porta da casa dele, eu tenho a impressão que ele precisa se precaver porque tem cheiro de recado”, diz Geraldo Melo.
Para ele, o desafio de governar o setor de segurança do Estado é muito grande. “O problema é que o desafio é muito complexo, e não se resolve apenas com o fato colocar uma tropa na rua. É preciso analisar o fenômeno de ponta a ponta. A gente vê alguns auxiliares, diante de algumas questões, dizerem que não sabem o que vai fazer”, alerta.
Rogério Marinho: “Contra o trabalhador são as propostas do governo Dilma Rousseff”
A polêmica em torno do projeto que regulamenta a terceirização no serviço público ainda rende. O deputado federal Rogério Marinho, presidente de honra do PSDB no Rio Grande do Norte, rebateu a senadora Fátima Bezerra (PT), que disse nesta sexta-feira (24) que, os parlamentares favoráveis ao Projeto de Lei (PL) 4330 – que trata exatamente da terceirização – “deram as costas aos trabalhadores”.
“Esta Lei não retira nenhum direito dos trabalhadores, pelo contrário, protege-os, normatiza e regulamenta uma atividade que hoje já representa mais de 20% da nossa força de trabalho. Ao contrário das propostas do governo Dilma Rousseff, essas sim são contra o trabalhador. As MPs 664 4 665 retiram direitos históricos e os diminui, alterando regras de obtenção de seguro desemprego, auxílio doença, pensão e outros”, disse Rogério.
Segundo o tucano, a regulamentação da terceirização foi um “importante passo na modernização da economia brasileira”. Mas, para Rogério, é natural que ocorra toda a polêmica em torno do projeto, “inclusive de desinformação deliberada e mal intencionada de líderes petistas e seus satélites que repetem palavras de ordem que emburrecem e confundem. Quem critica o PL sem entrar no mérito do projeto ou mostra que não leu o projeto ou tem má-fé”.
Rogério ainda aproveitou para convocar os brasileiros a acompanharem a votação das Medidas Provisórias (MPs) citadas acima, principalmente o voto dos petistas que agora criticam a PL 4330. “O governo do PT se elegeu prometendo ética e mudança, mas, há 13 anos, engana o povo brasileiro. Vamos observar o comportamento de deputados e senadores do PT quando da votação dessas MPs. Vamos verificar se o discurso atual é mero factoide para desviar a atenção da população dos desmandos, incompetência e corrupção que eles instituíram no país ou se terão coragem de verdadeiramente defender os direitos dos trabalhadores votando contra as medidas”.
Após ser aprovada na Câmara, a lei da terceirização segue agora para análise do Senado. Depois que os senadores definirem as mudanças na proposta, ela retornará para os deputados, a quem caberá a palavra final sobre a matéria antes dela ser enviada para sanção ou veto da presidente Dilma Rousseff. Caso seja vetada, a matéria votará para análise da Câmara, que poderá derrubar ou não o veto.