terça-feira, 1 de maio de 2012

DIFICULDADES NO SETOR AGROPECUÁRIO DO RN


 Agropecuária potiguar aponta gargalos e cobra incentivos


Assim como a indústria, a agropecuária potiguar clama por novos incentivos. O setor vem enfrentando dificuldades no Rio Grande do Norte. A produção de camarão e frutas, produtos que já foram carros-chefes da economia, vem perdendo força nos últimos anos. O ambiente atual não é favorável ao setor, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária no Rio Grande do Norte (Faern). Deficiências no órgão fiscalizador (Idiarn), atrasos no pagamento do programa do leite e infraestrutura precária impedem que o setor cresça como deveria. À isso, somam-se condições climáticas também desfavoráveis a produção e criação de animais. "O criador não encontra um ambiente favorável para desenvolver sua atividade no estado", afirma José Vieira, presidente da federação.

Aldair DantasExportação de melão: estudos mostram que boa parte da fruta do RN é escoada por portos vizinhosExportação de melão: estudos mostram que boa parte da fruta do RN é escoada por portos vizinhos

No Ceará, a situação é outra. Em poucos anos, o estado ultrapassou o RN e se tornou o maior produtor de camarão do país. Também se transformou no maior exportador de frutas do Brasil. Um estudo do Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae RN), publicado no início do ano, mostra o avanço. O RN escoava 61,14% do valor gerado com as exportações brasileiras da fruta, em 2005. O percentual despencou para 39,39% no ano passado. No mesmo período, a participação do Ceará passou 37,69% para 59,52%. "O governo cearense apoia o setor", justifica Vieira. Mas não é só isso. "O Ceará tem porto, estradas, projetos de irrigação", completa.

O fruticultor Segundo de Paula, presidente do Comitê Executivo de Fitossanidade do RN (COEX) e representante dos fruticultores potiguares e cearenses, cobra ações. Ele cita pelo menos quatro: a conclusão da estrada de melão, a reestruturação do Idiarn, o cumprimento da Lei Kandir e a abertura de uma Embrapa no estado. Segundo o Coex, cerca de 70% das frutas produzidas no RN são escoadas pelo Ceará. Apenas de agosto a janeiro - período da safra - 1.100 contêineres  saíram do porto de Pecém, no Ceará, por semana. Desse total, cerca de 80% foram preenchidos com produção do Rio Grande do Norte. De acordo com estudo recente publicado pelo Sebrae, do total de mercadorias exportadas pelo RN no primeiro trimestre do ano 58,92% saiu por outros portos. Só por Pecém, saiu 32,56%.

Os produtores potiguares se comprometeram a aumentar a quantidade de frutas escoada pelo porto de Natal, mas reconhecem que há limitações. "Exportamos mil contêineres por semana. Pelo Porto de Natal, saem 200 ou 300. Vamos tentar melhorar um pouco, mas não podemos aumentar muito para não atrapalhar o trânsito em Natal", afirma. "O porto de Pecém possui uma retroárea enorme e não tem problema de calado (profundidade do rio). Além disso, o governo cearense cumpre a Lei Kandir, que devolve os créditos de ICMS aos exportadores, e isso é fundamental", completa.



Entidades defendem mais diálogo

Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Norte (Faern), Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC) e Comitê Executivo Fitossanidade do RN cobram mais diálogo com o governo do estado. O governo do estado, segundo Itamar Rocha, da ABCC, deveria chamar os produtores para uma conversa. "Este seria o caminho mais curto para conhecer os problemas e encontrar soluções", defende.

José Vieira, da Faern, também defende um maior diálogo. A Federação chegou a criar uma comissão formada por várias entidades, entre elas a Associação Norte Rio Grandense de Criadores e o Sebrae, para debater os problemas que afligem a pecuária leiteira. As soluções serão apresentadas na próxima semana ao governo. Para José Vieira, o governo está 'sonolento'. Itamar Rocha usou uma palavra semelhante para expressar o mesmo pensamento. "O RN é apático". Para ele, falta alguma coisa. "Temos muita influência no Senado e na Câmara, mas não vemos iniciativa". Todos têm uma parcela de culpa, diz o presidente da ABCC. Existe uma apatia muito grande do governo, da classe política e do empresariado, que não faz nenhuma cobrança".

As pessoas, afirma Itamar, estariam acomodadas. "O RN fica vendo o bonde passar e  não pega carona. É chato ver tudo indo para o Ceará", conclui. A reportagem tentou contato com o secretário estadual de Agricultura e Pecuária, Betinho Rosado, mas não obteve êxito na tarde de ontem.

 
Licenciamentos atrapalham carcinicultura, diz ABCC
 
Não é só a fruticultura que tem considerado o ambiente no RN desfavorável. Para o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC), Itamar Rocha, a dificuldade em obter licenciamento ainda é o principal problema enfrentado pelos carcinicultores  no estado. "Os bancos têm dinheiro para o micro e pequeno produtor, mas só liberam para quem tem com licença ambiental". Dificuldades como essas acabaram tirando o fôlego da carcinicultura potiguar. Enquanto o RN, que já foi o maior produtor de camarão no país, produziu 23 mil toneladas no ano passado, o Ceará produziu 30 mil toneladas.  Itamar Rocha cobra desoneração da folha de pagamento e isenção de Pis/Cofins para os produtores.

Até as cabras leiteiras de Lajes estão deixando o Rio Grande do Norte, destaca José Vieira, da Faern. O estado vizinho conseguiu atrair grandes indústrias de derivados do leite nos últimos meses, como a Danone, aumentando a demanda por leite. "Se o governo do estado não agir imediatamente, o rebanho potiguar diminuirá em 40%, em função de todos esses problemas", alerta Vieira. Apesar do cenário desfavorável, José Vieira, Itamar Rocha e Segundo de Paula acreditam que é possível mudar o quadro. "Não há nada que não possa ser revertido", afirma Itamar Rocha, da ABCC. 


Fonte:  Jornal  Tribuna do Norte
Andrielle Mendes - repórter

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