Pedro Ladeira/Folhapress
O pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula,
é levado ao avião da PF após ser preso em Brasília
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A prisão do pecuarista José Carlos Bumlai se insere em um esquema de corrupção e fraude para pagar dívidas da campanha da reeleição do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conforme os depoimentos de delatores e provas que embasaram a decretação da prisão do pecuarista pelo juiz Sérgio Moro.
Preso pela Polícia Federal em Brasília nesta terça-feira (24), no âmbito da Operação Lava Jato, o pecuarista, que é amigo de Lula, chegou nesta tarde a Curitiba e foi encaminhado ao IML para exame de corpo de delito.
"José Carlos Bumlai se insere totalmente neste quadro [corrupção, fraude e lavagem sistêmica], pois as provas indicam que disponibilizou seu nome e suas empresas para viabilizar, de maneira fraudulenta, a partido político, com todos os danos decorrentes à democracia", escreveu Moro no decreto de prisão.
Num dos depoimentos de sua delação premiada, citados por Moro para justificar a prisão, o ex-gerente da área internacional da Petrobras Eduardo Musa afirmou que havia uma dívida de R$ 60 milhões da campanha presidencial de 2006, na qual Lula foi reeleito, com o banco Schahin. Para quitá-la, o governo utilizaria o contrato de operacionalização da sonda Vitória 10.000.
Musa afirmou, em delação, que recebeu US$ 720 mil no exterior a título de propina.
Também delator, o acionista do grupo Salim Schahin afirmou que o negóciofoi avalizado por Lula, conforme antecipou na Folha na semana passada.
"Bumlai chegou a dizer a Fernando [Schahin, diretor do grupo] que o negócio estava 'abençoado' pelo presidente Lula", disse o delator, em depoimento.
'SIMULAÇÃO' DE EMPRÉSTIMO
Um empréstimo de R$ 12 milhões foi tomado por Bumlai junto ao banco Schahin, em outubro de 2004. De acordo com Moro, a garantia oferecida pelo pecuarista –uma mera nota promissória– foi precária.
Em depoimento, Sandro Tordin, que presidiu o banco entre 1998 e 2007, afirmou que os petistas Delúbio Soares e José Dirceu intercederam para que a instituição concedesse o empréstimo a Bumlai.
A quitação, escreveu o juiz, se deu por meio da contratação do grupo Schahin para operar o navio-sonda Vitória 10.000, de US$ 1,6 bilhão.
No papel, o empréstimo de Bumlai foi quitado, sem juros, em 27 de janeiro de 2009, um dia antes da celebração do contrato entre a Petrobras e o grupo Schahin.
Em entrevista publicada pela Folha no último domingo, Bumlai disse que liquidara a dívida com a entrega de embriões de gado bovino de elite.
A versão de Bumlai é contestada por Salim Schahin, um dos sócios do grupo e também delator. Segundo ele, o empréstimo teve como destinatário final o PT e jamais foi pago. Salim Schahin diz que os embriões invocados por Bumlai como meio de pagamento jamais existiram.
"Tem-se, em tese, os crimes de corrupção ativa e passiva. Não na concessão fraudulenta do empréstimo, mas na sua quitação. A concessão pela Schahin da quitação fraudulenta do empréstimo em 27/1/2009 caracteriza vantagem indevida concedida a José Carlos Bumlai e, por conseguinte, ao Partido dos Trabalhadores", disse.
Não teria sido possível entregar a operação da Vitória 10.000 à Schahin como parte de um acordo político sem o funcionamento de uma engrenagem de fraude dentro da Petrobras, segundo os autos.
Relatório de auditoria da Petrobras confirmou que houve direcionamento indevido para a contratação da Schahin. O grupo já operava uma outra sonda e teve índices de produtividade inflados artificialmente para ser convidado a operar a Vitória 10.000, sem concorrência.
A investigação interna da companhia também mostrou que os Schahin recebiam bônus de performance de 15%, mais altos do que os praticados praticados para contratos similares.
O CAMINHO DO DINHEIRO
De acordo com a investigação, Bumlai recebeu R$ 12,1 milhões do Banco Schahin em outubro de 2004 e, no mesmo ano, realizou um suposto empréstimo à Fazenda Eldorado S.A., pertencente a Natalino Bertin, um dos donos do Frigorífico Bertin.
"Causa certa estranheza que alguém obtenha um empréstimo em uma instituição financeira de R$ 12 milhões e, ao mesmo tempo, conceda em empréstimo esse mesmo valor a terceiro", escreveu Moro. Segundo as declarações de renda de Bumlai, o suposto empréstimo feito aos Bertin lhe foi gradativamente restituído entre 2005 e 2007.
MARIO CÉSAR CARVALHO
GRACILIANO ROCHA
BELA MEGALE
DE SÃO PAULO
GRACILIANO ROCHA
BELA MEGALE
DE SÃO PAULO
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