Brasília (AE) - A Fiocruz de Pernambuco comprovou em pacientes brasileiros a relação entre o zika vírus e a Síndrome de Guillain-Barré (SGB), doença rara que também apresentou um aumento atípico nos últimos meses no Nordeste. O achado aumenta o alerta em torno do zika, principal suspeito de causar uma epidemia de microcefalia no País. O vírus, que chegou ao Brasil neste ano, já está presente em 18 Estados, incluindo São Paulo e Rio. Nesta quinta, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, discutirá com a Casa Civil o uso do Exército para ampliar o combate aos focos do Aedes aegypti, mosquito vetor do zika, dengue e chikungunya. No início do ano, soldados do Exército atuaram no combate à dengue no Distrito Federal.
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No início deste ano, soldados do Exército foram convocados
para ajudar agentes de endemias no combate ao Aedes aegypti
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Reunidos ontem em Brasília, secretários estaduais de Saúde de todo o País mostraram preocupação com o atual cenário. Wilson Modesto Pollara, secretário adjunto de Saúde de São Paulo, reconheceu ser necessário redobrar os cuidados para reduzir os criadouros do mosquito. Ele observa que o combate é a única estratégia possível neste momento. "Depositávamos esperanças no desenvolvimento de uma vacina para dengue", afirmou. "Mas, diante da ameaça de chikungunya e zika, esse recurso terá uma eficácia limitada."
A Síndrome de Guillain-Barré afeta em média uma pessoa a cada 100 mil habitantes. A reação geralmente acontece depois de uma infecção provocada por bactéria ou vírus. Em alguns casos, terminada a infecção, o sistema imunológico do paciente sofre uma "pane" e identifica células do organismo como invasoras e passa a atacá-las.
O ataque das células de defesa causa um processo inflamatório e a destruição da bainha de mielina, uma espécie de capa que recobre os nervos periféricos. O resultado é o bloqueio da passagem dos estímulos nos nervos, levando à paralisia.
Os resultados da pesquisa da Fiocruz foram obtidos em um trabalho feito pela pesquisadora Lúcia Brito, chefe do serviço de neurologia do Hospital da Restauração, de Pernambuco. A análise identificou a presença do zika no líquido cefalorraquidiano (LCR) e no sangue de sete pacientes que apresentaram a SGB. As suspeitas sobre a relação entre a infecção pelo zika e a síndrome surgiram na Polinésia, quando pesquisadores identificaram um aumento do número de SGB logo depois de uma epidemia. "A ligação da SGB com o zika é inequívoca", avaliou o pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e responsável pela identificação da chegada do vírus no Brasil, Kleber Luz. Questionado, o Ministério da Saúde disse que o assunto está "em investigação".
O maior risco é de a paralisia afetar também músculos respiratórios. A mortalidade da doença é considerada baixa e poucos pacientes têm sequelas. Na maioria dos casos, a recuperação ocorre de forma tranquila. "Mas é um processo longo, que pode levar até 90 dias", afirmou o pesquisador da Fiocruz e coordenador da análise que comprovou a presença do zika nos pacientes com SGB de Pernambuco, Carlos Brito.
O número de casos de SGB cresceu de forma expressiva no Nordeste do País entre abril e junho, pouco depois que os Estados apresentaram a epidemia de zika. No Rio Grande do Norte, foram 24 casos de SGB - quatro vezes mais do que a média histórica. Em Pernambuco, o registro alcançou 130 casos. Na Bahia, foram diagnosticados pelo menos 55 pacientes. A notificação aumentou ainda no Maranhão e na Paraíba, com 14 e 6 casos, respectivamente.
Microcefalia
O fenômeno é semelhante ao aumento de microcefalia, doença rara que se tornou epidemia nos últimos três meses no Nordeste. Até agora, foram registrados 739 casos de bebês com má-formação. Especialistas discutem agora com o governo estratégias para acompanhar o impacto da zika e as relações com SGB. Entre as propostas está criar um grupo para identificar, o mais rapidamente possível, os primeiros sinais da síndrome e encaminhar pacientes para tratamento. A ideia é também organizar um comitê de estudo para avaliar qual a evolução da Síndrome de Guillain-Barré.
Bate-papo - Fábio Vilas-Boas
Secretário de Saúde da Bahia
'Tivemos de reservar leitos de UTI para casos mais graves'
O senhor teme uma epidemia no próximo verão?
É preciso trabalhar para que isso não aconteça. Mas há uma parcela significativa da população ainda suscetível ao vírus. É preciso pensar estratégias para combater o mosquito.
No Nordeste, a maior parte dos criadouros está relacionada ao armazenamento de água...
Não há o que fazer. Vai deixar de haver racionamento? As pessoas vão deixar de guardar água? É preciso ir além. Por isso aposto em alternativas, outros métodos, como a do mosquito transgênico
Mas as pesquisas na Bahia não pararam por falta de recursos?
Foram 140 dias sem pagamento e retomamos em agosto. Os mosquitos transgênicos deixaram de ser soltos no período, mas quero retomar as negociações. Tenho uma reunião nos próximos dias. Não sei quanto tempo será preciso, mas temos interesse. Ficar só virando lata não basta.
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