Os casos de microcefalia em bebês nascidos entre julho a outubro deste ano têm chamado a atenção de especialistas em genética por apresentar - diferente de registros anteriores - lesão neurológica mais grave. É o que explica o geneticista João Neri, do Centro de Reabilitação Infantil (CRI). A microcefalia por infecção congênita diagnosticada em bebês nos últimos meses está associada a calcificação formada na parte do córtex, a área mais externa e que concentra as atividades cerebrais. Antes, verificava-se a ocorrência na parte mais próxima ao centro do cérebro, uma região em aberto chamada de ventrículo.
Júnior Santos
João Neri lembra que o mais urgente
é descobrir as causas para prevenir a doença
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“Com a calcificação cortical, área onde ficam as células, há uma lesão mais grave nunca antes vista. Em decorrência da infecção, o vírus 'derrete' o cérebro da criança, ficando um vácuo, uma bolha. E ela não terá uma função cerebral normal”, disse. “O que faz mais urgente descobrir a causa, por comprovação científica, e dar condições de diagnóstico e de tratamento”, frisa João Neri.
O tamanho da cabeça é definido pelo desenvolvimento do cérebro que dá a sustentação aos ossos do crânio. A má formação pode ser causada por infecção congênita, uso de substâncias abortivas, anticonvulsivas e fatores genéticos.
Como a causa da calcificação é decorrência de um quadro infeccioso - uma vez que o organismo para se defender cria um invólucro de cálcio em torno do agente -, o crescimento no número de bebês com microcefalia nascidos entre julho e novembro vem sendo relacionado ao surto de chikungunya e zika ocorrido no início do ano.
O médico sugeriu à Sesap a inclusão no protocolo de atendimento e investigação dos casos registrados no RN, para o acompanhamento pré-natal, além de triagem para toxoplasmose, rubeóla, sífilis, citomegalovírus, os exames para parvovírus B19, a sorologia para chikugunya e o PCR para o zika - exame molecular que identifica o DNA do vírus.
“Há laboratórios no Estado ( Rio Grande do Norte) que fazem e já disponibilizaram receber a demanda a título de pesquisa cientifica”, acrescenta. A dificuldade nesse caso seria conseguir a aprovação imediata do conselho de ética em pesquisa, sem precisar o prazo normal de seis meses.
O médico recomenda ainda que o protocolo estabeleça o acompanhamento médico de todos bebês cujas mães tenham apresentado quadro de zika ou reação cruzada, mesmo que a criança tenha nascido com o diâmetro normal da cabeça. “É preciso acompanhar e começar um trabalho de estímulo desde cedo, como forma de evitar déficit cognitivo”, alerta Neri.
Isto porque a chikungunya e a zika estão associadas a processos inflamatórios da medula. Estudos mostram que bebês nascidos de mães que tiveram a infecção por estes vírus, no período próximo ao parto, apresentam baixo desenvolvimento intelectual em relação a bebês de mães que não foram infectadas.
A reação cruzada ocorre devido a semelhança de sintomas com outras doenças, como a dengue, e o organismo apresenta a mesma reação, o que pode comprometer o diagnóstico do quadro.
Deverão ser avaliados todos os recém-nascidos que apresentem, por exame de ultrassonografia, o diâmetro da cabeça igual ou menor a 33 centímetros; ou que cujas mães tiverem resultado positivo para as sorologias no primeiro e/ou terceiro trimestre de gravidez; ou ainda daquelas que apresentarem quadro de exantema. “Caso seja identificado uma ou mais destas três ocorrências, os bebês deverão ser avaliados”, afirma o médico.
A Sesap prevê para os próximos dias a publicação do documento que irá orientar os procedimentos médico-hospitalar de microcefalia. No RN, foram confirmados 47 casos, com duas mortes nos últimos meses.
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Sara Vasconcelos
Repórter
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