Produção nacional de remédio contra tuberculose depende de aval da Anvisa
Imagem/Arquivo Blog "naserra" |
Rio de Janeiro - Um dos países com mais casos de tuberculose no
mundo, o Brasil esbarra em uma norma interna para produzir um remédio
contra a doença. Três laboratórios podem fabricar o medicamento quatro
em um, que reúne quatro princípios ativos em um comprimido e é
considerado o mais eficaz pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Porém, para o remédio ser fornecido, o país precisa alterar uma
resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Atualmente, as normas do órgão regulador não permitem que quatro
drogas sejam combinadas em um único remédio. Para autorizar a produção
do quatro em um, portanto, a Anvisa precisa rever uma resolução, o que
foi pedido há mais de um ano. O processo é sigiloso e a agência só
informa que recentemente pediu dados a um dos laboratórios com condições
de produzi-lo imediatamente, o Instituto de Tecnologia em Fármacos
(Farmanguinhos) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A produção em território nacional do quatro em um é fundamental para
dar autonomia ao Brasil no tratamento da doença, defende o coordenador
do Programa Nacional de Controle da Tuberculose do Ministério da Saúde,
Draurio Barreira. Atualmente, o medicamento é distribuído gratuitamente
para cerca de 80 mil pacientes da rede pública. “O mundo inteiro usa,
nós usamos [importado], mas não podemos produzir”, disse. “É uma questão
burocrática que vem nos prejudicando”.
Segundo Barreira, o tempo entre a compra e a entrega do quatro em um
é um ano, mas pode se estender. No último pedido, relata, o remédio
estava em um porto na Índia, pronto para sair, quando acabou sendo
vendido para outro país por falta de um documento de importação. “Quer
dizer, ficamos na ameaça de abastecimento. São coisas absurdas que
acontecem”, disse. Por causa da greve na Anvisa, a importação também foi
dificultada, e o país estava no limite do fornecimento até semana
passada.
Mas, mesmo com a liberação da agência reguladora para a combinação
do medicamento contra tuberculose no Brasil, os laboratórios nacionais
continuarão a importar os quatro princípios ativos. A compra dessas
drogas e a distribuição do comprimido pronto, no entanto, ficam menos
complexas, diz o representante do Departamento de Assistência
Farmacêutica do Ministério da Saúde, Luiz Henrique Costa. “A importação
de matérias-primas é muito mais comum e a produção nacional nos dá
independência.”
O Brasil gasta por ano R$ 3,6 milhões com o quatro em um. Por mês,
são 2,2 milhões de comprimidos para o combate à tuberculose,
cuja incidência é 37 casos por 100 mil habitantes, embora os números
venham caindo. Entre os problemas estão o abandono do tratamento, que
dura seis meses, e os efeitos colaterais dos remédios, que provocam
mal-estar e desconforto gastrointestinal.
Com a produção nacional, o Observatório Tuberculose Brasil acredita
que a qualidade dos produtos também ficará resguardada. O representante
da entidade Carlos Basília lembra que, em 2010, o estado do Rio – que
tem o maior índice de casos no país –
devolveu, por má qualidade, um lote inteiro importado da Índia. “A
tuberculose não é uma doença que dá lucro, não há interesse de grandes
indústrias, o Brasil acaba refém dos laboratórios, enquanto tem
tecnologia para fazer isso aqui.”
Além de Farmanguinhos – que desde 2010 tem um acordo com o
laboratório indiano Lupin para a transferência de tecnologia do quatro
em um – podem produzir o comprimido o Núcleo de Pesquisa em Medicamentos
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e o Laboratório
Químico Farmacêutico do Exército, segundo o coordenador do Programa
Nacional de Controle da Tuberculose.
A expectativa dos especialistas é que, antes de alterar a resolução,
a Anvisa faça uma consulta pública. Embora a agência seja vinculada ao
ministério, “o órgão tem autonomia e a responsabilidade de checar todos
os critérios técnicos de segurança”, ressaltou Luiz Henrique Costa, do
Departamento de Assistência Farmacêutica. “Estamos mostrando tudo isso. É
um processo demorado mesmo”, completou.
Edição: Juliana Andrade
Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
FONTE
Nenhum comentário:
Postar um comentário