quinta-feira, 18 de abril de 2013

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Disfemia: quando a fala é uma eternidade

Imagem/Arquivo Blog "naserra"
Repetição ou prolongamento de sons e sílabas. Bloqueio de sons. Simplificação de frases. Essas são situações recorrentes às pessoas que sofrem de disfemia, uma perturbação na fala popularmente conhecida como gagueira. De origem psicomotora, a gagueira se caracteriza pela interrupção da fala por insegurança, excitações e bloqueios em todas as situações de comunicação, inclusive na leitura.

Cerca de 5% das crianças entre dois e quatro anos de idade apresentam episódios de disfemia, sendo geralmente episódios transitórios que duram poucos meses, ocorrendo em consequência de uma combinação de vários fatores durante o desenvolvimento da fala. Um destes fatores é a maturação lenta do processamento da linguagem, resultante de uma habilidade ainda pequena para articular palavras e encadeá-las em frases nesta idade.

“A gagueira é uma patologia que geralmente tem origem na infância, podendo acontecer de forma natural (gagueiras que dependem de determinadas situações no ambiente social, como nervosismo e ansiedade), fisiológica (quando a criança está adquirindo a fala) ou patológica, quando o menor sofre alguma intervenção negativa por parte da família, causando sofrimento ao sujeito”, explica a fonoaudióloga Fernanda Tamisa.

Responsável por fazer atendimentos terapêuticos em uma clínica de especialidades integradas, Fernanda explica que a gagueira patológica é a forma em que o problema se apresenta de maneira mais séria. “Ao ver a criança gaguejando naturalmente, com ansiedade para falar tudo de uma vez só, a mãe fica nervosa com a situação e pede que a criança tenha calma, pense antes de falar. Mas isso só atrapalha o desenvolvimento da fala, pois, quando a criança começa a se preocupar com seu discurso, ela começa a quebrar algo que é espontâneo”, disse.

O rápido fluxo de pensamentos, em contraste com a relativa imaturidade do sistema, contribui para que a criança apresente alguma dificuldade para produzir um ritmo regular e suave em sua fala. Esse problema pode aumentar quando a criança está ansiosa, cansada ou doente, e quando está tentando dominar muitas palavras novas. “Os pais não podem intervir negativamente. Têm que deixar que a fala transcorra de forma natural, mesmo que haja interrupções”, avaliou a profissional.

A disfemia que persiste após os cinco anos de idade está associada a alterações anatômicas e funcionais do cérebro, conforme vêm demonstrando as pesquisas mais modernas de neuroimagem. A avaliação e o tratamento precoces são decisivos para que a criança consiga compensar cedo essas eventuais deficiências, antes do aparecimento de complicações secundárias. Por essa razão, recomenda-se que toda criança com sintomas recorrentes de gagueira passe por avaliação da fonoaudiologia o mais cedo possível.

“Existem algumas teorias que defendem a gagueira como uma causa biológica, hereditária. Mas a linha de tratamento que a maioria dos profissionais trabalha não considera isso. A abordagem terapêutica é detalhadamente na construção da linguagem do indivíduo. A família deve ser orientada para que as intervenções negativas não aconteçam. O primeiro sinal que possa preocupar alguém já carece do acompanhamento por um profissional”, reforçou Fernanda.

O fonoaudiólogo é o clínico responsável pelo atendimento da maioria dos pacientes com gagueira. No entanto, nem todo fonoaudiólogo está devidamente capacitado para tal tarefa. Em muitos casos, apenas a terapia da fonoaudiologia é insuficiente para atender de forma adequada todas as necessidades do paciente com gagueira, tornando necessária a adoção de medidas adicionais de suporte, como assistência psicológica e farmacológica.

Do mesmo modo que algumas pessoas com problemas emocionais podem acabar desenvolvendo gastrites, colites, alergias cutâneas ou enxaqueca, a gagueira, embora menos comum, também pode ser desenvolvida. No geral, quem sofre de gagueira no dia a dia tende a sentir mais dificuldade em situações específicas de estresse, como falar em público.

Existem também aqueles indivíduos que sofrem com gagueira repentina, somente em momentos estressantes – exatamente como algumas pessoas suam ou sofrem de cólicas ao ficarem nervosas. Em ambos os casos não há motivo para muita preocupação. Eles podem ser tratados com terapias e até mesmo com medicamentos que diminuem o estado de nervosismo. Normalmente, a cura da gagueira acontece quando o indivíduo controla a tensão.

De acordo com a fonoaudióloga Fernanda Tamisa, a gagueira é uma dificuldade em controlar o ritmo da fala. “Geralmente, as pessoas que sofrem da gagueira cantam normalmente, pois a música já tem um ritmo conhecido”, explica. “Percebemos também que, quando estão em público, muitas vezes batem a mão ou o pé em algum objeto ou no chão. Isso acontece porque estão procurando um ritmo que os auxilie na hora de falar”, afirma.


Falta de informação sobre a disfemia gera preconceito

A população em geral dispõe de pouco conhecimento sobre o problema da gagueira. Desta forma, a pessoa que gagueja acaba sofrendo preconceito na hora de buscar uma colocação profissional, em uma entrevista de emprego, no ambiente de trabalho ou em seu ambiente de convívio familiar e social. O gago é sempre motivo de piada e brincadeiras e, muitas vezes, não é levado a sério, por causa de dificuldade de fala.

Até o momento não se conhece cura para a gagueira, no sentido de eliminar o caráter genético e/ou orgânico envolvido. O que existe são diferentes linhas de tratamento para melhorar a fala, e reduzir os sintomas. Atualmente, a tecnologia é uma grande aliada no tratamento de algumas pessoas que gaguejam. Alguns aparelhos têm mostrado excelentes resultados na promoção de fluência da fala. Já existem no mercado produtos para tratamento da gagueira, como o SpeechEasy.

O aparelho age no cérebro desencadeando o efeito coro – um fenômeno natural que reduz a gagueira. O efeito coro ocorre quando uma pessoa que gagueja fala ou lê ao mesmo tempo em que outra pessoa, reduzindo a gagueira. Por fazer a voz do usuário alcançar o cérebro com um ligeiro atraso e com um tom diferente, o aparelho fornece a sensação da pessoa estar falando ao mesmo tempo em que a outra.

Apesar de ser um tratamento que une tecnologia avançada e conforto para a pessoa que sofre da patologia, deve ser utilizado em combinação com tratamento fonoaudiológico especializado para que seu benefício seja otimizado.

É comum as pessoas não terem paciência para escutar o gago, interferindo na sua fala ou até mesmo completando o que acredita que o disfluente iria falar. Em se tratando de um distúrbio que não afeta a inteligência nem outras habilidades do indivíduo, a gagueira não deve impedir que a pessoa trabalhe, estude e seja bem sucedida profissional e pessoalmente. Segundo o Instituto Brasileiro de Fluência (IBF), a incidência da gagueira no Brasil é de 5% – aproximadamente 9,5 milhões de brasileiros passam por um período de gagueira na fase da vida. Desse número, 1% torna-se permanentemente disfêmico.


FONTE








Por: Carolina Souza

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