Presidente tenta conter crise após convidar Kátia Abreu sem consultar o partido
Dilma pensa em Alves para a Previdência, mas PMDB
o quer na Integração - Jorge William / O Globo
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BRASÍLIA - Para desfazer a crise criada com o PMDB ao convidar a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) para ministra da Agricultura sem conversar com o partido, a presidente Dilma Rousseff sinalizou que poderá indicar o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), para a Esplanada. Em conversa nos últimos dias com o vice-presidente Michel Temer e com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Dilma sugeriu nomear Alves para o Ministério da Previdência, no lugar de Garibaldi Alves, primo dele, que retomará o mandato de senador.
Ao ouvir dos peemedebistas a justificativa de que a Agricultura, que será assumida por Kátia Abreu, sempre foi uma pasta cuja indicação passava pela bancada do partido da Câmara, a presidente sugeriu a troca: dar aos deputados a Previdência, anteriormente indicada pelos senadores. A equação, no entanto, não é tão simples de resolver, porque os deputados concordam com a nomeação de Alves, mas para o Ministério da Integração Nacional. A Previdência é historicamente considerada um “abacaxi”, já que as medidas mais importantes dos ministros da pasta são geralmente cortes impopulares de benefícios.
Ao sinalizar que dará a Henrique Alves uma vaga na Esplanada, Dilma contraria o que vinha dizendo aos seus auxiliares logo após as eleições: que não faria um Ministério de derrotados nas disputas estaduais. Mas ela já indicou o senador Armando Monteiro (PTB), que perdeu o governo de Pernambuco, para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Henrique Alves foi derrotado no Rio Grande do Norte. Mais dois senadores peemedebistas que perderam eleições para o governo nos seus estados trabalham para garantir um espaço no Ministério: o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (AM), e o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE).
Em conversa entre Dilma e Temer, ficou acertado que, em princípio, o PMDB terá seis ministérios: três indicados pelos senadores, e outros três indicados pela bancada da Câmara ou pela direção do partido. Dilma conseguiu de Renan Calheiros o acordo de que Kátia Abreu, que vinha sendo considerada cota pessoal da presidente, seja uma indicação dos peemedebistas do Senado. Dilma deixou claro a Renan que a nomeação de Kátia para a Agricultura é “muito importante” para ela e que, apesar das reações contrárias que surgiram após o vazamento da indicação, não deverá mudar de ideia.
— Depois de perceber a confusão que criou convidando Kátia para a Agricultura, a presidente propôs a troca desse ministério passar a ser uma indicação do Senado, e a Previdência, com Henrique, da Câmara — contou um peemedebista da cúpula.
Com Garibaldi e Edison Lobão (Minas e Energia) fora da Esplanada, o partido definirá se Vinícius Lages — indicado por Renan — permanece no Turismo, ou se emplaca Braga ou Eunício na pasta.
— Estou voltando, porque ninguém se perde no caminho de volta — disse ontem Garibaldi, ao circular pelo Senado.
MINAS E ENERGIA
Braga vem trabalhando para substituir Lobão no Ministério de Minas e Energia, mas não é tarefa fácil. Desde que estourou o escândalo da Petrobras, Dilma quer manter a pasta sob seu estrito comando. Uma das ideias é indicar para a área seu ex-chefe de gabinete Giles Azevedo, que atualmente coordena a transição do governo. Dilma, no entanto, tem dificuldade em nomear seus auxiliares mais diretos para postos de comando. Prefere mantê-los em assessorias especiais, como acontece com Giles desde que veio com ela de Porto Alegre para Brasília, em 2003. Segundo interlocutores da presidente, Braga pode ter chance porque sempre teve uma boa relação com ela desde que substituiu Romero Jucá (PMDB-RR) na liderança do governo no Senado.
Se Dilma tirar o Ministério de Minas e Energia do PMDB, o partido brigará para aumentar sua participação, já que a pasta é considerada uma das mais importantes da Esplanada, pois comanda Petrobras, Itaipu e todo o setor elétrico.
— Se ela tirar esse ministério do PMDB, terá que compensar com outros, porque ele tem mais poder que a maioria — disse um dirigente.
Quanto a Eunício, ele gostaria de ser indicado para o Ministério da Integração Nacional, pasta na qual Henrique Alves também tem interesse. Na cota do vice-presidente Michel Temer, Moreira Franco deverá permanecer na Aviação Civil. Uma eventual indicação de Henrique Alves para ministro tem o apoio de maioria expressiva dos deputados.
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