Natal vive atualmente uma “epidemia” de problemas na prevenção e combate à dengue. Apesar de o município ter registrado uma diminuição de 31,21% no número de casos da doença durante o primeiro quadrimestre deste ano – foram registradas 474 pessoas infectadas pela dengue clássica – a deficiência no número de agentes de saúde nas ruas e a falta de materiais de trabalho (fardamento, veículos, UBVs portáteis) dificultam a complementação dos ciclos de combate ao mosquito. Nem mesmo o primeiro ciclo de visitas às residências – as casas recebem um agente a cada dois meses – foi finalizado em 2014.
Magnus Nascimento
Agentes retiram, com frequência, pneus acumulados em quintais |
Dos casos registrados neste ano, três foram à óbito e apenas sete foram considerados “graves”, causando complicações em outros órgãos. Mas mesmo com a ainda pequena incidência de natalenses afetados pela doença, o último boletim da dengue da SMS coloca a cidade em nível de “alerta” quanto à infestação do mosquito. De acordo com o Índice de Infestação Predial (IIP) de março deste ano, o índice de residências e prédios com focos do mosquito chega a 2,8% – uma taxa que coloca Natal em “médio risco” com relação a um possível surto da doença, visto que o índice considerado “satisfatório” pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é abaixo de 1%.
Alguns bairros da capital convivem historicamente com índices ainda maiores, principalmente os localizados em zonas com falta de água, sem esgotamento sanitário ou com problemas na coleta de lixo, como é o caso dos bairros da Zona Oeste e do Distrito Norte II, como Nossa Senhora da Apresentação, Potengi, Igapó e Salinas. Nestes bairros, o número de casas com focos do mosquito pode chegar a quatro a cada cem residências. Entretanto, a concentração do número de casos da doenças se inverteu no primeiro quadrimestre de 2014: a Zona Sul lidera, com 134 pessoas infectadas, contra 101 na Zona Oeste.
“Esse índice quer dizer que eu tenho vetor suficiente para colocar a cidade em médio risco de surto”, comenta o chefe do Centro de Controle de Zoonoses, Alessandre de Medeiros. Ele acrescenta que a secretaria de saúde tem feito mobilizações informando a população da doença, uma vez que o combate porta a porta – representado pela visita dos agentes de saúde – enfrenta dificuldades. O município dispõe hoje de 520 agentes de saúde, dos quais 450 fazem parte do quadro da secretaria e os demais são terceirizados. O número ainda é insuficiente para fazer a cobertura completa na cidade; na distribuição das equipes, por exemplo, um agente fica responsável, em média, por uma zona – ou aproximadamente 800 residências. A situação é agravada com a greve de servidores municipais – 38% da categoria não está em serviço nas ruas.
O presidente do Sindicato dos Agentes de Saúde do RN, Cosmo Mariz, rebate os argumentos e informa que a deficiência no atendimento é agravada pela falta de material de trabalho para os agentes. Há mais de seis anos as equipes não recebem fardamento e crachás para atuar nas ruas, o que dificulta o acesso deles às residências. “Essas visitas estão sendo feitas parcialmente, porque estamos sem fardamento. Passamos o ano passado praticamente inteiro sem trabalhar. As pessoas não nos deixam entrar nas casas sem a identificação, o que é compreensível”, diz Cosmo.
De acordo com ele, apenas dois dos seis ciclos de visita se completou em 2013. “Essas mobilizações da Prefeitura não são combate de verdade. O combate acontece porta a porta”, alfinetou. O Centro de Zoonoses confirmou a informação, e completou: apenas um dos quase três ciclos que já deveriam ter sido realizados
A situação é agravada pelo índice de residências fechadas que são encontradas pelos agentes comunitários, o que favorece a subnotificação de focos da doença. “Às vezes pegamos até dez imóveis fechados por dia, e não há como notificá-los. O pessoal fica desassistido muito tempo e com isso acaba agravando a situação do bairro”, comenta a supervisora epidemiológica do bairro Guarapes, Elildes Gualberto da Silva.
Magnus Nascimento
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Nadjara Martins
Repórter
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