Museólogo diz que casos chegam através de cartas, e-mails e rede social.
Religiosa foi beatificada em 2011, após Vaticano reconhecer milagre.
Por cartas, e-mails e até mesmo por mensagens em rede social. Os relatos de milagres realizados após orações à Irmã Dulce chegam de todos os lugares e de todas as formas. De dezembro de 2010 até maio de 2014, a Assessoria de Memória e Cultura das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) diz que recebeu cerca de sete mil casos de pessoas que dizem ter obtido graças por meio da "Bem-aventurada Dulce dos pobres". Três deles passam por processo de investigação para serem encaminhados ao Vaticano. Beatificada em 2010, a religiosa, que morreu em 1992, completaria 100 anos nesta segunda-feira (26).
(Foto: Lílian Marques / G1)
Relatos de milagres atribuídos à Irmã Dulce desde 1992 estão arquivados |
No dia 26 de dezembro de 2010, a Congregação para a Causa dos Santos do Vaticano reconheceu um milagre atribuído a Irmã Dulce em 2001. Um dia depois, o Papa Bento XVI assinou o decreto que beatificou a religiosa. Para ser canonizada e se tornar santa, será necessária a comprovação de um segundo milagre, que deve ter acontecido após a beatificação. Para Oswaldo Gouveia, museólogo da Assessoria de Memória e Cultura das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), no que depender dos fiéis, isso não será problema.
Irmã Dulce nasceu em maio de 1914
e morreu pouco antes de completar 78 anos
(Foto: Reprodução/TV Globo) |
Ele conta que milhares de relatos de milagres atribuídos à Irmã Dulce chegaram ao órgão desde a morte da religiosa. "De 1992 pra cá já recebemos 35, 40 mil relatos. Mas nem todos valem para o Vaticano. Hoje, somente contam aqueles que aconteceram depois que ela foi beatificada. Então, se formos considerar de 2010 para cá, já recebemos sete mil", explica.
Segundo Gouveia, as mensagens dos fiéis encaminhadas ao órgão atribuem à Irmã Dulce a cura de doenças, aquisição de imóveis, reconciliação de casamento, reabilitação das drogas, entre outras graças.
"Chegam relatos de todas as maneiras. Já recebi até através do Facebook. Quando aconteceu, achei interessante e fiz uma entrevista com a pessoa. Ela se predispôs a enviar a documentação [para comprovar o milagre]. De todos os casos que recebemos, 90% são ligados a questões familiares e financeiras", afirma o museólogo.
O caminho até que o milagre seja reconhecido é longo e complicado. Gouveia explica que o Vaticano tem quatro exigências quanto à veracidade da graça: ser preternatural (a ciência não consegue explicar), instantâneo (acontecer imediatamente após a oração), duradouro e perfeito. Após receber o relato dos fiéis, a Assessoria de Memória e Cultura faz uma triagem dos casos e começa o processo de investigação.
"A maioria dos casos confirmados é associada à medicina por ter mais facilidade de comprovação. É difícil você comprovar um outro tipo de milagre, algo financeiro ou um filho que deixou de usar entorpecentes. Mas, por exemplo, teve um caso na Itália de uns marinheiros que estavam em submarino que fundou. Um deles era devoto de um beato, o invocou e a máquina veio à tona. Foram chamados engenheiros e todos eles disseram que não era possível que ele tenha emergido", explica Gouveia.
Dos sete mil casos que chegaram à paróquia desde 2010, atualmente três deles estão sendo investigados a fundo por peritos da Assessoria de Memória e Cultura das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID). "Analisamos todos os relatos que chegam. Atualmente, três estão sendo avaliados pelo nosso perito. Desses, ele vai escolher um e encaminhar ao Vaticano", diz Gouveia.
Assim que o Vaticano é informado do milagre, novos peritos passam a investigar o caso, conta Gouveia. "O Vaticano se instala no local em que ocorreu o milagre e um tribunal eclesiástico começa a analisar a graça."
Em um processo tão complexo e sem prazo para ser encerrado, Gouveia acredita que resta aos fiéis manterem a fé de que um dia verão a beata se tornar santa. "Nesse campo, para quem tem fé, tem que entregar a Deus. Somente o homem lá de cima vai dizer quando chegar a hora".
Local onde fica túmulo de Irmã Dulce foi decorado por fiéis (Foto: Lílian Marques / G1)
Quarto onde Irmã Dulce dormiu foi preservado (Foto: Lílian Marques / G1) |
Por Ruan Melo
Do G1 BA
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