terça-feira, 6 de maio de 2014

EMERGÊNCIA MUNDIAL

OMS declara emergência mundial de poliomielite

GENEBRA - Depois de detectar casos em mais de uma dezena de países, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou emergência sanitária mundial diante do risco de contágio da poliomielite.

A decisão foi tomada nesta segunda-feira (5/05), e anunciada depois de uma série de reuniões do Comitê de Emergência da OMS. Essa é apenas a segunda vez na história que a entidade declara uma emergência global por conta de uma doença. A primeira vez foi em 2009, com a gripe A. O Brasil foi um dos pioneiros na erradicação da doença, ainda nos anos 80. Para o consultor da Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS), Luiz Carlos Lobo, o caso de sucesso no Brasil provou que “é possível debelar as doenças transmitidas pelo contato humano por meio de políticas públicas de vacinação”, afirma. 

Apesar dos casos de polio terem sido identificados principalmente na África, Oriente Médio e Ásia, a entidade optou por decretar o estado de emergência mundial como forma de combater sua proliferação e diante do risco de que a doença chegue a países que, com esforços de anos e milhões de dólares gastos, conseguiram erradicar o problema.

O vírus estava prestes a ser declarado como extinto há três anos. Mas conflitos armados em algumas regiões e a falta de investimentos em outras abriram as portas para a volta da doença. O risco, desta vez, é que com a facilidade de contatos e de viagens, o vírus teria maiores chances de chegar a novas regiões.

Uma campanha financiada por Bill Gates e Rotary Internacional e que destinou à vacinação mais de US$ 11 bilhões havia conseguido limitar a pólio a apenas três países: Paquistão, Afeganistão e Nigéria. Os casos em Cabul e Abuja caíram em mais de 50% desde o início da campanha. Mas o mesmo não conseguiu ser feito no Paquistão e, nos últimos seis meses, o vírus se espalhou para a Síria, Iraque, Camarões, Guine Equatorial, Etiópia, Israel e Somália.

Os principais focos da nova onda da doença são Paquistão, Camarões e Síria. A recomendação a esses governos é de que não permitam a saída de pessoas dos países sem que estejam vacinados. Mas com a guerra na Síria tendo feito desabar parte da estrutura do estado e diante dos mais de 3 milhões de refugiados, a OMS reconhece que muitos que podem estar portando o vírus já estão em outros países.

A Síria era considerada um exemplo no Oriente Médio de como um governo conseguiu erradicar a doença. Nenhum caso foi identificado em 14 anos. Mas a guerra transformou essa realidade. A OMS alerta que milhares de sírios estão hoje vivendo de forma precária nas periferias das grandes cidades europeias, além de já representar 25% da população do Líbano e terem criado a quarta maior cidade da Jordânia, em apenas três anos.

Outro centro da atenção é o Paquistão. Em 2012, um total de 223 casos foram identificados no mundo. O número foi o mais baixo já registrado. Mas, em 2013, esse número já chegou a 417. Nos quatro primeiros meses de 2014, o número já chegou a 74. Desses 59 foram registrados no Paquistão.

Mas o que gera a preocupação da OMS é que as cidades paquistanesas sequer iniciaram a temporada do ano em que os casos são mais frequentes.

Parte do projeto de vacinação no Paquistão foi afetado depois que o governo americano usou uma pessoa disfarçada de agente médico para vacinar as crianças de uma casa que, depois, se descobriria que era o esconderijo de Ossama Bin Laden. Rumores de que a vacina causava perda de fertilidade também acabaram atrapalhando o processo.

Apenas em 2013, mais de 20 médicos que percorriam o país foram assassinados, além de nove policiais que faziam a segurança de centros de vacinas.

Entre as recomendações, a OMS pede que os países afetados ampliem as campanhas de vacinação e que deem às pessoas que estejam viajando documentos que identifiquem se elas foram de fato imunizadas. O vírus, disseminado por fezes, ataca o sistema nervoso e pode causar paralisia em apenas algumas horas. 10% dos afetados morrerem e não existe cura.


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