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D. Pedro II nasceu em 2 de dezembro de 1825, filho da imperatriz Leopoldina, mulher inteligente e sensível aos estudos, às artes e às letras, e do imperador Pedro I, que deixou um perfil de homem de coragem, mas rude e pouco afeito aos livros, "capaz de grandes ódios e de grandes amores". Leopoldina chegou ao Rio de Janeiro em 1817, aos 20 anos de idade, para ser a consorte de d. Pedro I, e morreu em 1826. Trouxe para o trono do Brasil a linhagem dos Habsburgos, da Áustria. Gostava de ler e de escrever, especialmente cartas, mandadas para a Europa, no afã de vencer a grande saudade. Transcrevo a missiva que ela enviou ao pai, em 17 de dezembro de 1825, na qual fala do nascimento do rebento mais novo, de uma prole de sete filhos: "Perdoe-me, querido papai, por não ter escrito pelo último paquete mas estava muito doente e não pude cumprir o dever doce para o meu coração. Graças a Deus estou muito feliz, embora tenha dado à luz, com muito esforço e não sem ajuda de parteiro competente, às três horas da manhã do dia 2 de dezembro, um menino muito grande e forte, que recebeu no sagrado batismo o nome de Pedro". Chegara ao mundo, então, o outro Pedro, trazendo o destino de governar o Brasil por 49 anos, três meses e vinte e dois dias, período administrativo mais longo e mais significativo da história do país.
A ruptura dos regimes, com a proclamação da república, se deu em moldes de golpe de Estado, em 1889. Quase sempre nas datas de quinze de novembro de cada ano, inclino-me a evocar aquele que perdeu o poder, o destronado, o órfão do seu próprio país. D. Pedro II - erudito, simples, um democrata de cetro e coroa - não teve escolhas: levado para um navio, dois dias depois do ato de criação da república, foi-lhe dito, em outras palavras, algo assim: Dê o fora, suma do Brasil, bastam-lhe somente as lembranças. Não pensaram nem na fragilidade física do monarca, no diabetes já com suas mazelas instaladas. Um homem de 64 anos, velho para aquela época, saúde frágil, amargurado pela ingratidão, desolado pelas traições de falsos amigos, para enfrentar uma longa viagem de navio no rumo da Europa, tinha forte risco de não suportar a travessia.
O navio Alagoas aportou em Lisboa 21 dias depois de zarpar do Rio de Janeiro. O imperador resistiu, buscou nos livros uma fuga da realidade, mas a imperatriz, Teresa Cristina, faleceu poucos dias depois da chegada a Lisboa. Os dois se casaram em 1843, quando d. Pedro tinha 18 anos, sendo a noiva quatro anos mais velha. Nos retratos, Tereza mostrava-se bonita, porém, de fato, era feia, baixinha e manca. Fala-se que d. Pedro até chorou ao vê-la, tamanha foi a sua decepção. Mas, com o tempo, o casal cresceu em afeição, muito mais ainda com o nascimento dos filhos. Sobre a morte da esposa, d. Pedro deixou um registro no seu famoso diário: "Ninguém imagina a minha aflição! Somente choro a felicidade perdida de 46 anos". Não se pode olvidar, contudo, que ele teve três grandes e principais paixões: o Brasil, os livros e a condessa de Barral.
O Brasil, ao longo do tempo, padece de dois males viscerais: um débil sistema educacional, com pouco apego da população, no geral, à leitura; e a corrupção, a envolver boa parcela dos setores governamentais. Decerto, o país não soube se espelhar com ênfase nos exemplos de d. Pedro II, nas lições de amor às letras, à ciência e à educação, de probidade no serviço público, de patriotismo, de apreço ao trabalho, de desvelo por sua terra e pelo seu povo. Seus méritos de estadista foram mais louvados no exterior do que no seu próprio país. Ainda é tempo de se fazer um abrangente resgate histórico da vida de quem foi chamado, na Europa e nos Estados Unidos, de "governante modelo do mundo".
Por: Daladier Pessoa Cunha Lima - Reitor do UNI-RN
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