Sexta denúncia contra Lula não deixa margem a dúvidas sobre quem é o verdadeiro dono do sítio em Atibaia. Investigação revela que o petista era informado pelo caseiro até sobre ataques de animais silvestres ao galinheiro
Crédito: Divulgação
O BICHO PEGOU O caseiro Maradona (centro) informava Lula
sobre tudo o que dizia respeito ao sitio.
Até sobre a morte de marrecos
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Deixaram a raposa – ou para ser mais preciso, o gambá – cuidando do galinheiro e o resultado não poderia ser diferente: o réu Lula é acusado, novamente, de receber dinheiro de propina para enriquecer. Desta vez, a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) refere-se ao sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, que pertenceria ao ex-presidente e que foi reformado com o dinheiro sujo de empreiteiras.
Lula nega ser o proprietário do sítio, mas a quebra do sigilo telemático de Elcio Vieira, o Maradona, caseiro do local, deixa a defesa do ex-presidente praticamente insustentável. As trocas de mensagens entre Maradona e seguranças de Lula mostram que o petista não só era o dono, como era informado diariamente sobre os problemas do sítio. Dos mais comezinhos.
Foto anexada por Léo Pinheiro ao
processo mostra Lula no sítio de Atibaia
(Crédito:Divulgação)
Em e-mail enviado no mês de outubro de 2014 por Maradona a Valmir Moraes, segurança de Lula lotado no Instituto do ex-presidente, com o título “armadilha”, o caseiro informa que “morreu mais um pintinho essa noite e caiu dois gambá (sic) nas armadilhas”. Os barbudos gambás estavam devorando os desprotegidos pintinhos e Lula precisava saber de tudo o que acontecia no galinheiro.
Já no dia 23 de outubro de 2014, Maradona mandou mais um e-mail para o “patrão”, dando satisfações sobre outros animais que viviam na propriedade.
Com o título “pintinho”, Maradona relatou que “a pirua (sic) esmagou os três pintinhos de pavão que estava (sic) com ela”. Ou seja, Lula, que sempre alegou nunca saber de nada, sabia de tudo até sobre os pintinhos.
A troca de e-mails entre Maradona e o segurança do petista no Instituto Lula sobre os animais de estimação do sítio estão entre as provas apresentadas pelos procuradores da Lava Jato para acusarem o ex-presidente por corrupção e lavagem de dinheiro.
Se for condenado, o petista ao menos pode se dar ao luxo de posar de defensor dos animais. ONGs de apoio aos bichos podem prestar-lhe solidariedade.
Pois além de atestar o cuidado com os pintinhos do sítio, as mensagens eletrônicas mostram que os marrecos também povoavam as preocupações de Lula. Em 02 de outubro de 2014, Valmir Moraes recebeu um e-mail de Leonardo Martins, funcionário do instituto Lula, com o título “Jaguatiricas em Atibaia?”. No e-mail, Leonardo deixa claro que está respondendo a um pedido de Lula. “Respondendo à pergunta do presidente: que bicho comeu os marrecos?
Provavelmente, uma Jaguatirica”. Leonardo relata ainda que ligou para o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Carnívoros (CENAP/ICMBIO) com o objetivo de conseguir informações sobre a prevenção de ataques de Jaguatiricas e sugeriu que o segurança do ex-presidente avaliasse se precisaria de “uma visita de um técnico do centro ao sítio” para orientar o caseiro. O Cenap disse que um cachorro latindo já afugentaria as Jaguatiricas.
A troca de e-mails, porém, não se limitava a discorrer sobre os animais do local – assunto que só interessa, claro, ao verdadeiro proprietário do imóvel. Na denúncia do MPF, há outras conversas entre o caseiro e o Instituto Lula que deixam claro e cristalino que a posse do sítio é mesmo do ex-presidente. Em um e-mail com o título “avião aki (sic) na chácara hoje pela manhã”, de 21 de outubro de 2014, Maradona mandou 12 fotografias de uma aeronave no céu. Em 31 de julho do mesmo ano, o caseiro mandou uma lista de compras de materiais de construção. Ao final, escreveu que fez tudo “como combinado com Dona Marisa”, se referindo a Marisa Letícia, mulher de Lula, morta em fevereiro deste ano.
“Avião passou aqui”
De acordo com a denúncia do MPF, a reforma do sítio custou R$ 1,020 milhão e foi paga de forma oculta pelas construtoras Odebrecht, OAS e Schahin. Os valores estariam vinculados a quatro contratos firmados pela Petrobras com a Odebrecht (avaliados em R$ 128,1 milhões) e três com a OAS (avaliados R$ 27 milhões). As empreiteiras teriam repassado R$ 870 mil para construção de anexo e benfeitorias no sítio, como compras de móveis e a reforma da cozinha. Já os outros R$ 150 mil são decorrentes de propina de contratos do Grupo Schahin.
Para o MPF, “restou evidente que Lula comandou a formação de um esquema criminoso de desvio de recursos públicos destinados a comprar apoio parlamentar de agentes políticos e partidos, e enriquecer ilicitamente os envolvidos”. Os procuradores pediram também um ressarcimento de R$ 155.227.702,04, correspondente ao valor total da porcentagem da propina paga e lavada pela Odebrecht, OAS e Schain em razão dos contratos de que trata a denúncia. Se, ao que tudo indica, o juiz Sergio Moro aceitar a denúncia, Lula se transformará em réu pela sexta vez. O petista, realmente, virou uma fábula.
Amigos da onça
SEM TETO/ Apesar de constar como “dono” do sítio de Atibaia,
Jonas Suassuna e sua mulher não tinham sequer uma cama
para dormir no local
(Crédito:Leonardo Muòoz)
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É impressionante como os ditos “amigos” de Lula se transformaram em seus principais algozes – o que contraria a tese do petista de que estaria sendo vítima de um complô da Lava Jato. Depois de Bumlai, Léo Pinheiro, Marcelo Odebrecht e Delcídio do Amaral, na semana passada, foi a vez de Cláudia Suassuna, mulher de Jonas Suassuna, em nome de quem está o sítio de Atibaia.
Em depoimento à Lava Jato, Cláudia contou que esteve na propriedade apenas duas vezes: em festas juninas organizadas por Lula. O mais estranho – para alguém que seria dono do lugar – é que Cláudia não dormiu no sítio, mas num quarto de um hotel da cidade. Outro amigo de Lula já havia municiado a Justiça com informações relevantes sobre o processo do sítio em Atibaia.
Léo Pinheiro, da OAS, anexou uma foto em que ele aparece no sítio, próximo a uma piscina, ao lado do ex-presidente e de um diretor da empreiteira. Na última semana, Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, também entregou documentos para provar que se encontrou por três ocasiões com o petista, entre os quais uma foto dos dois lado a lado tirada na sede do Instituto Lula. O petista sustentava a versão de que havia encontrado Duque apenas uma vez em Congonhas. Lascou-se.
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Thaís Skodowski
Thaís Skodowski
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