O Brasil "exportou" o vírus zika para a Itália dois meses antes de o Ministério da Saúde confirmar a sua circulação no país, em maio deste ano.
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Segundo estudo publicado no periódico científico "Eurosurveillance", especializado em epidemiologia, vigilância e prevenção, o vírus foi introduzido na Itália em março, por um morador de 60 anos que passou 12 dias de férias em Salvador (BA).
Quatro dias depois de retornar a Florença, sua cidade natal, o homem apresentou febre de até 38ºC, manchas vermelhas pelo corpo, conjuntivite e fraqueza.
Segundo os pesquisadores, em razão dos sintomas de doença viral e do histórico da viagem para uma região endêmica (na época, para dengue e chikungunya), foram feitos vários testes, como dengue, febre amarela, chikungunya, parvovírus e zika.
Os resultados do exame (detecção de anticorpos contra uma infecção prévia) apontaram o zika. Os sintomas desapareceram uma semana depois.
Editoria de Arte/Folhapress
O período de infecção do italiano pelo zika coincide com o momento em que pesquisadores do Instituto de Biologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia) tentavam identificar o vírus que causava uma doença misteriosa, que tinha sintomas parecidos com os da dengue.
Após analisar amostras de sangue de pacientes de Camaçari, coletadas em março, eles identificaram em abril o zika por meio da mesma técnica utilizada pelos cientistas italianos (RT-PCR). Foi a primeira vez que isso aconteceu na América Latina.
"Esse trabalho [italiano] é ótimo. Mostra que em março o vírus já circulava na Bahia, exatamente como nosso grupo havia demonstrado", afirma o virologista Gubio Soares, da UFBA.
CASOS IMPORTADOS
Até então, EUA, Japão e Austrália haviam registrado casos importados da infecção, mas todos vindos do Sudeste Asiático. É a primeira vez que o "zika brasileiro" aparece nesse cenário.
Para Caio Freire, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, em razão do grande número de pessoas infectadas pelo zika hoje no Brasil, o país pode se tornar um exportador desse vírus.
"Caso existam mosquitos capazes de transmitir o vírus nesses países, o zika pode encontrar um meio de passar em uma cadeia de transmissão humano-mosquito-humano", explica ele.
Na opinião de Gubio Soares, esse é um risco real, que deveria fazer com que o Ministério da Saúde e os governos estaduais investissem em campanhas preventivas também para os turistas que chegarão ao país agora no verão e na Olimpíada de 2016.
Segundo os autores do trabalho, no caso da Itália e de outros países europeus, especialmente os mediterrâneos, a preocupação é que o mosquito Aedes albopictus existe em abundância e também é vetor em potencial do zika.
Em 2007, esse mosquito foi responsável por uma epidemia de chikungunya na Emilia-Romanha, no norte da Itália. O vírus foi introduzido na região por um morador que havia viajado dias antes a uma área endêmica.
Os pesquisadores recomendam que as autoridades de saúde pública europeias intensifiquem a vigilância sobre os viajantes. "Precisamos evitar a disseminação do zika entre a nossa população local de mosquitos."
Em nota, o ECDC (centro europeu de prevenção e controle de doenças) informou que, atualmente, o risco de transmissão do vírus zika na Europa é "extremamente baixo" em razão do inverno, que não é uma estação propícia para a reprodução do Aedes.
Segundo o centro, todos os países receberam alertas para que intensifiquem a vigilância de viajantes que retornem de áreas endêmicas, como o Brasil, e de lugares onde os vetores estão presentes.
Também foram orientados a capacitar seus laboratórios para que desenvolvam testes que diferenciem o zika de outras arboviroses (dengue e chikungunya, por exemplo).
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CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
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