Ex-presidente da empresa disse que pagamento foi feito após ajuda de Lula junto ao governo venezuelano
O ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo -
Geraldo Bubniak / Agência O Globo / 20-6-2015
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RIO — O ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, disse, nesta sexta-feira, que a propina paga pela empresa ao PT incluiu até uma siderúrgica na Venezuela. Segundo ele, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto cobrou 1% do valor correspondente à participação brasileira no projeto, liderado pela Andrade. O investimento total na usina foi de US$ 1,8 bilhão, em valores de 2008, quando a construtora ganhou o contrato.
Azevedo prestou depoimento nesta sexta-feira na 7ª Vara Criminal Federal do Rio, onde corre ação contra a Andrade Gutierrez por acusação de pagamento de propina à Eletronuclear. Embora o tema da audiência fosse a Eletronuclear, Azevedo deu um panorama de como era a prática de pagamento de propina pela empresa.
Segundo o executivo, a prática era a cobrança pelo PT de 1% do valor dos contratos ganhos pela Andrade. No caso da siderúrgica da Venezuela, o executivo contou que a Andrade disputava o empreendimento com empresas italianas e que venceu a disputa após ajuda do ex-presidente Lula.
— Estávamos disputando essa obra com a Itália. A Andrade conversou com o Lula, que pediu diretamente ao Chávez (ex-presidente da Venezuela) para que olhasse para o Brasil. Foi o que aconteceu. Mas não houve pedido do Lula (de propina) — disse Azevedo.
A cobrança de propina foi feita “muito tempo depois” por Vaccari, segundo ele, porque haveria financiamento do BNDES. O governo venezuelano também participou como sócio.
Quanto ao pagamento de propina à Eletronucelar, Azevedo disse que soube da denúncia quando estava preso. Ele foi preso em junho de 2015 na Operação Lava-Jato por envolvimento em esquema de propina na Petrobras.
DIRETOR DA EMPREITEIRA ADMITE TER TRATADO DE PROPINA
Também nesta sexta-feira, o diretor da área de energia da Andrade Gutierrez, Flávio Barra, admitiu ter se encontrado com o ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva, na casa dele, para tratar de propina. O depoimento foi concedido durante audiência aberta na 7ª Vara Criminal Federal do Rio, onde corre ação contra a Andrade Gutierrez, acusada pela Lava-Jato de pagamento de propina a Eletronuclear.
Segundo Barra, foram feitas duas reuniões na casa de Othon da Silva para tratar de propinas e repactuações dos contratos da Andrade para construção da usina nuclear de Angra 3.
— Teve duas reuniões na casa dele. Falamos sobre doações. Nós vivíamos pedindo repactuações (dos contratos). Quando assumi os contratos, já tinha R$ 150 milhões de prejuízo. Se continuássemos performando assim, teríamos déficit de R$ 250 milhões. Precisávamos que o Dr. Othon atuasse para que os aditivos fossem assinados — disse Barra.
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DANIELLE NOGUEIRA
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