Ralf Mutschke, chefe de segurança da Fifa, diz que partidas mais vulneráveis foram identificadas |
A dez dias do início da Copa do Mundo, a notícia da investigação sobre uma possível manipulação do resultado do amistoso entre Nigéria e Escócia não poderia ter chegado em pior momento.
A partida, disputada na quarta-feira passada em Londres, terminou com um empate de 2 x 2. Um dia antes, a agência nacional de crimes britânica (NCA, na sigla em inglês) havia informado a Fifa sobre uma possível tentativa de manipular o jogo.
A integridade do futebol já se encontra sob alerta por conta de outras revelações recentes. Apesar disso, a Copa do Mundo em si mantém-se distante de escândalos desse tipo.
Pode ser que manipuladores de partidas se sintam intimidados com o torneio, visto por milhões de pessoas em todo o planeta e com a Fifa em estado de alerta. Mas, não é bem assim, diz o chefe de segurança da Fifa, Ralf Mutschke.
Ex-executivo da Interpol, Mutschke diz não poder dar à Copa um certificado de garantia, e que já identificou as partidas nas quais o risco é maior.
Segundo ele, certas equipes e grupos foram identificados como vulneráveis à manipulação. A última rodada de jogos das fases de grupos, com equipes que já não têm chances de classificação, é a mais perigosa.
As partidas amistosas, de preparação para a Copa, também estão ameaçadas. Manipuladores já teriam se aproximado de jogadores e árbitros. O foco preferido será o maior número de gols em uma partida.
Nos últimos dois anos, Mutschke e sua equipe se prepararam para evitar que as partidas da Copa sejam vítimas de armações.
"Não esperamos que aqueles que manipulam partidas viagem ao Brasil e batam na porta do hotel dos jogadores ou árbitros, mas sim que haja aproximação a uns e outros", diz.
Como parte da campanha contra a manipulação, cada partida terá uma classificação para algum potencial ilícito, determinada pelo trabalho de inteligência e os antecedentes.
As apostas que preocupam
Há mais possibilidades de aqueles que buscam manipular as partidas tentem influenciar resultados em duas modalidades de apostas: o chamado handicap asiático e o de mais ou menos gols.
Mais de 99% das apostas na Ásia se realizam nestas duas modalidades.
"Diria que estou mais preocupado com estes dois tipos de apostas", disse Mutschke.
"O resultado da partida é uma possibilidade, mas é muito mais difícil organizar, já que são necessários muitos jogadores. Com o handicap asiático ou o mais ou menos, você pode precisar apenas do árbitro ou um ou dois jogadores", disse.
O chamado hadicap asiático é uma forma de aposta na qual os times são classificados de acordo com sua forma atual, que determina uma vantagem sobre o adversário. Os times mais fortes têm que vencer por um número maior de gols para que a aposta feita numa vitória deles seja considerada vencedora.
O sistema foi criado na Indonésia e se popularizou por todo o continente asiático
Assim que chegarem ao Brasil, Mutschke e sua equipe devem conversar com os responsáveis pelas seleções e com os árbitros encarregados das partidas.
"Tivemos sessões de treinamento com os árbitros em Zurique. Também vamos nos encontrar antes do início no Rio e visitaremos as equipes e os jogadores e faremos com eles o que chamamos de sessões de segurança", disse o chefe de segurança da Fifa.
Mutschke disse que haverá um diretor que coordenará as medidas com um sistema de alertas da Fifa (EWS, na sigla em inglês), que controla os padrões de apostas.
E o que acontece quando os canais de informação indicarem algo ilegal ou, durante uma partida, o EWS alertar os investigadores para a ocorrência de algo ilícito?
"Teremos um oficial no estádio que atuará se eu decidir", disse Mutschke. "Isso dependerá da informação obtida e a resposta requerida".
"Ele poderá apenas supervisionar a situação de jogadores, árbitros ou outros. Poderá se aproximar das pessoas durante o intervalo ou diretamente depois da partida. Também pode utilizar uma equipe técnica para identificar possíveis 'manipuladores' no estádio".
Chris Eaton, antecessor de Mutschke na Fifa, acredita que o nível de ameaça na Copa do Mundo é "baixo", mas disse que os criminosos poderiam se sentir tentados pelos enormes benefícios.
"É um (valor) baixo pela magnitude do evento", disse Eaton. "Isso dissuade os manipuladores. É mais fácil para eles atuar nas ligas europeias menores ou amistosos internacionais".
"No entanto, o montante apostado na Copa do Mundo será de muitos bilhões de dólares e grupos criminosos não deverão deixar passar essa oportunidade.
Espera-se que o mercado de apostas na Ásia gere cerca de US$1 bilhão por partida.
Em comparação, a indústria de apostas reguladas no Reino Unido estima volume semelhante para todo o torneio. (BBC Brasil)
Por Regy Carte
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