quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

CASA DO ESTUDANTE DE NATAL/RN

Entre dejetos humanos e animais, cenário da Casa do Estudante é de degradação

                     Foto: José Aldenir
Prédio histórico, construído em 1856, tem acumulados 
problemas estruturais, forte odor e muita sujeira. 
“Atenção a todos!!! Quando usar o banheiro, jogue um balde d’água nas fezes! Dessa maneira, evitamos a bagunça que os ratos fazem com sua m…!”. O aviso exclamativo e escatológico está fixado acima de mictório de um dos três banheiros que ainda funcionam na Casa do Estudante de Natal.

 O prédio histórico, construído em 1856 e transformado em hospedaria para jovens oriundos do interior do Estado 90 anos depois, vive um processo de degradação que parece inacabável. Da calçada é perceptível o cheiro de dejetos humanos, animais, alimentos estragados e mofo, que deixa o lugar com ares de presídio.

Na manhã desta terça-feira (19), a reportagem esteve no local e constatou a fedentina que, aliada aos forros e rebocos corroídos, oferecem uma imagem condizente com um ponto de encontro para viciados em drogas, ao contrário do motivo maior: oferecer apoio logístico para a parte mais pobre da juventude potiguar. Água suja e urina no chão, teto com manchas verdes de infiltração, mosquitos, gatos, pichações compõem o cenário de um salão que um dia serviu de lugar para leitura. No pátio central, alunos e desocupados assistem televisão em meio às moscas.

A situação é a pior dos últimos anos, segundo os residentes. O que outrora fora um refeitório, agora é um galpão abandonado com janelas quebradas, sujeira onipresente e o fantasma do que um dia serviu de moradia para norte-riograndenses ilustres. Nos quartos, fios expostos e paredes descascadas. O perigo e a falência moral aparecem em cada cômodo (51 ao todo). Mesmo assim, o tom das reclamações é ameno. “Na minha cidade, todos que têm alguma coisa, passaram por aqui”, diz Marco Antonio, de 22 anos, que há quatro trocou Pilões, no Alto Oeste, pela Casa do Estudante.

Em pleno recesso estudantil, durante o mês de janeiro, a Casa foi invadida por marginais que arrombaram dois quartos. “Antes, professores bons vinham dar aula de graça, como um reforço, aqui pra nós. Agora não vem mais ninguém, pela situação que isso está aqui. Antes funcionava tudo”, diz Marco Antonio, aluno de um cursinho pré-vestibular. Ao custo de R$ 20 por mês, ele e mais 180 estudantes têm a disposição água encanada, energia, telefone e alimentação.

Para Deividem Lisboa, jovem natural de Pau dos Ferros que trancou a faculdade de Direito, a vulnerabilidade começa com a alvorada: “Aqui de dia não tem vigia e à noite só tem um sargento aposentado da PM. Eu quero ficar só mais um ano, no máximo. Não tem condições de viver nessa imundície toda” – como apoio às cinco instituições de direito privado que abrigam estudantes no Estado, a Secretaria do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social (Sethas) faz um repasse de R$ 150 mil.

A administração da Casa do Estudante está sob responsabilidade do ex-cozinheiro Luiz Alves. Há 28 anos, ele convive com grupos de jovens. “O quarto depende de cada um. Todo mundo é de maior (sic). Só que ali, tem muitos que não são estudantes, são elementos que não estudam, mas não saem da Casa. Eu não posso pegar na mão deles e botar pra fora”. Ciente da cena dantesca, ele diz que está em fase de regularização dos documentos da instituição para solicitar melhorias para o prédio.

Do outro lado da mesa de negociações, à espera de Luiz Alves, está o secretário Luiz Eduardo Carneiro Costa. “Não gerimos a Casa do Estudante. Damos um apoio pagando as contas básicas. Desde o ano passado, estamos esperando essa documentação. Mas até agora, nada. Não podemos fazer tudo por eles. A ideia é que eles procurem parceiros, e nós somos parceiros. Estamos aqui para ajudar. Cheguei a falar com a Fundação Banco do Brasil, mas eles [a administração da Casa] não retornaram até agora, mesmo eu oferecendo a estrutura da secretaria para ajudá-los na elaboração dos projetos”.

No meio do imbróglio, o prédio histórico tem o emblema da negligência em duas placas, uma inaugurada pelo então governador Vivaldo Costa, em 1994, e outra na gestão Cortez Pereira, em 1973. Fé e desenvolvimento são mesclados em textos fora da realidade observada e mantida pelos últimos governos. A primeira diz que [...] aos estudantes que vivem nesta casa a esperança de um futuro melhor para o nosso Estado”. Enquanto a segunda, traz entre outros dizeres “[...] que Deus nos ajude a nós, Rio Grande do Norte, Povo e Governo, para sermos, na nossa dimensão, a dimensão grande que é o Brasil”.


Por: Conrado Carlos
FONTE










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